Considerado um dos países com maior cobertura vegetal do planeta, no ranking, atrás da Rússia, e ostentando cerca de 500 milhões de hectares de área verde, conforme dados do Serviço Florestal baseados em pesquisas do IBGE, o Brasil parece se apressar em perder posições nessa escala. Em um momento em que o mundo entra em alerta climático diante do aquecimento global, com a Europa enfrentando uma onda de calor histórica e registro de temperaturas recordes em países como o Reino Unido, Espanha, Portugal e França, os brasileiros viram sumir do mapa 189 hectares de áreas verdes a cada hora, apenas no ano passado.
Foram 16.557 quilômetros quadrados derrubados ou queimados (1.655.782 hectares), um aumento de 20% em relação ao ano anterior, segundo Relatório Anual do Desmatamento da iniciativa MapBiomas, que mobiliza universidades, organizações não-governamentais e empresas de tecnologia. Com base nesses dados, é como se a área de um estádio do Maracanã fosse devastada a cada dois minutos de 2021. Ou, considerados os últimos três anos de medição, como se o território nacional tivesse perdido praticamente um estado do Rio de Janeiro em cobertura vegetal (42.517 quilômetros quadrados suprimidos).
Descendo ao nível dos estados, o líder da destruição de vegetação em números absolutos foi o Pará, com eliminação de 402 mil hectares em 2021, seguido do Amazonas, que viu tombarem 194 mil hectares de florestas no ano passado. As duas unidades da federação estão inseridas no bioma que perdeu a maior cobertura verde no período, de acordo com o levantamento: 59% das áreas desmatadas estão na Amazônia.
Quando o tema é avanço da degradação, em termos proporcionais o Distrito Federal (aumento de 687% entre 2020 e 2021), Pernambuco ( 279%), Paraíba ( 147%), Ceará ( 133%), Minas Gerais ( 88%) e Sergipe ( 80%) tiveram os maiores incrementos na área em que foi detectada supressão vegetal. No caso do Distrito Federal e de Minas, influência decisiva do avanço da atividade econômica sobre o cerrado, o segundo bioma em áreas de desmatamento no país, representando 30,2% do total — e seguramente aquele em que a destruição ocorre de maneira mais sorrateira e silenciosa, por não chamar tanto a atenção quanto a devastação que ocorre na Amazônia ou no Pantanal.
Enquanto avança a pressão sobre as áreas verdes, é tímida a resposta do poder público. Segundo o mesmo estudo do MapBiomas, 75% do desmatamento detectado nos últimos três anos permanece sem ações de fiscalização. Em contrapartida, o Espírito Santo foi o estado com a maior proporção de reação a agressões, com 86,3%. Na sequência aparecem Mato Grosso (66%), Minas Gerais (43,2%) e Tocantins (40,9%). Bahia (1,7%), Santa Catarina (3%) e Pernambuco (4,4%) são os estados com menos providências oficiais frente à devastação, indica o levantamento.
O trabalho que aponta o avanço do agronegócio como líder disparado em supressão vegetal de 2019 a 2021, com responsabilidade sobre a assustadora média de 97,8% da área desmatada no país, deveria colocar todos os brasileiros em alerta — a começar pelas autoridades responsáveis por uma fiscalização que os números revelam ser claramente insuficiente e ineficaz. A degradação da imagem do país em escala planetária em um mundo assustado com o aquecimento talvez seja o menos preocupante efeito desses dados.
Perder florestas, alertam especialistas, significa infinitamente mais que perder prestígio internacional. A vegetação, explicam, influencia na regulação do clima, nos ciclos da água e de nutrientes do solo, na produção de oxigênio e no estoque de carbono, enquanto árvores derrubadas significam liberação para a atmosfera de gases que contribuem com o efeito estufa e com mudanças climáticas. O país não pode continuar a esbanjar seu patrimônio verde como se ele fosse inesgotável. Não é uma questão de imagem, e sim de sobrevivência.