"Senhoras e senhores, desejo a todos uma boa noite, um bom descanso e vão com Deus." A frase foi pronunciada pelo condutor do metrô, assim que o trem parou na Estação Guará. Seria algo corriqueiro e banal. Não nos tempos que vivemos. O nome disso é empatia. Algo infelizmente cada vez mais incomum. Muitas pessoas perderam a capacidade de se preocupar com as outras. A luta pela sobrevivência e a crise econômica lançaram muitos brasileiros no individualismo. Mas, também, a polarização política: quem é de direita ataca os "esquerdistas"; quem é de esquerda critica os "fascistas". Ante tantas dificuldades econômicas e divergências políticas, muitos de nós perdemos um pouco de nossa essência como humanos. Falamos em Deus, mas ignoramos o outro. A imagem crua e cruel de brasileiros arremessados na sarjeta quase do dia para a noite não condói muitos de nós, imersos em uma bolha de vaidade, de egocentrismo e de desprezo.
No último domingo, durante o plantão, eu me deparei com uma notícia que aquece a alma e nos faz acreditar que a humanidade ainda tem conserto. Aconteceu em uma cidadezinha do Tennessee, nos Estados Unidos. Charlotte Joy perdeu a mãe aos 7 anos, em abril, acometida por um câncer no cérebro. A garota ficou aos cuidados de Chloe, 28. A irmã mais velha queria proporcionar a Charlotte um aniversário especial, uma forma de suavizar, ainda que momentaneamente, a dor da ausência eterna da mãe e o peso do luto. Enviou convites e somente recebeu uma confirmação. Frustrada, postou vídeo no TikTok em que relatava sua decepção. Até sábado, 9 milhões de pessoas tinham visualizado o mesmo e deixado 30 mil comentários.
Em 9 de julho, Charlotte teve a festa merecida e que jamais sonhou, graças a dezenas de voluntários que ajudaram na decoração e compraram presentes. Um grupo de entusiastas de jipes organizou uma carreata passando pela rua da menina. Os jipeiros abriam a janela, deixavam os presentes e colocavam, no som, músicas de aniversário. Um "convidado" vindo do Mississippi levou um cavalo para que Charlotte e seus amiguinhos pudessem cavalgar. Outra pessoa exibiu cobras não peçonhentas e deu uma aula para a garotada sobre répteis. Uma aula de solidariedade, compaixão e altruísmo.
Nas redes sociais, além das fake news que emporcalham o bom senso, temos visto exemplos de egoísmo, de preconceito, de intolerância e de ódio. Dia desses colocaram a foto de um senhor pedindo dinheiro na rua, com um cartaz em que aparecia a chave de um PIX. Tantas pessoas começaram a condenar o homem e a acusá-lo de golpe apenas por colocar o PIX como meio para receber esmola. Talvez possamos aprender um pouco com o condutor do metrô e com os anônimos que atenderam ao chamado para alegrar a vida de uma criança órfã. Empatia é tudo.