São João de Meriti, Rio de Janeiro. Depois de nove longos meses, o que deveria ser um momento sagrado, especial e numinoso para a mulher, mas também de extrema fragilidade, transforma-se em pesadelo e inferno. Na madrugada de segunda-feira, o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 32 anos, que deveria zelar pela segurança e pelo bem-estar da paciente, é flagrado colocando o pênis na boca da gestante sedada, enquanto os outros médicos, do outro lado do lençol que isola a visão, realizam o parto. Estupro. Hediondo. A violência tosca, bizarra, horrorosa e estarrecedora durou 10 minutos. O agressor ainda foi filmado limpando o esperma do rosto da mulher. No mesmo dia, ele teria violentado outras duas parturientes.
Que o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro impeça esse "médico" de voltar a exercer a profissão algum dia. Que a Justiça imponha-lhe a pena máxima. Que os nossos legisladores revisem o Código Penal e agravem as punições contra crimes sexuais. Quantas mais vítimas o estuprador deve ter feito? O "anestesista" deverá ser condenado a entre 8 e 15 anos de prisão. Pouco para tamanha perversidade.
Foz do Iguaçu, Paraná. Na noite de sábado, o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) e guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda foi executado dentro da própria festa de aniversário de 50 anos. O assassino é o policial federal penal e bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho. A comemoração, ocorrida na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, tinha como temática o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Aqui é Bolsonaro!", gritou Guaranho, ao invadir o evento já disparando em direção ao dirigente petista. Marcelo deixa esposa e quatro filhos.
Ao invés de mostrar empatia pela família do morto, o presidente Jair Bolsonaro tratou de acirrar o ódio. Declarou que a violência é exclusiva da esquerda. Ontem, em telefonema de 12 minutos para familiares de Marcelo, reclamou que a imprensa — "quase toda de esquerda" — tenta colocar o assassinato no colo dele. Tentou capitalizar politicamente sobre a tragédia. O vice, Hamilton Mourão, tratou o assassinato como coisa que "acontece todo fim de semana". As duas mais altas autoridades não agiram como deveriam: condenar um crime bárbaro, cobrar punição e se simpatizar (verdadeiramente) com a dor de uma família destroçada. Mostraram a cara do Brasil que envergonha.
Em 82 dias, o país onde estuprador se disfarça de médico e onde se proíbe pensar diferente, sob o medo infundado do "comunismo" (que nem existe mais), escolherá o presidente e renovará a Câmara dos Deputados. Espero que a razão e o bom senso prevaleçam sobre o fanatismo e a cegueira ideológica. E que os próximos governantes prezem pelo absoluto respeito e proteção às mulheres, combatam a misoginia e façam leis ainda mais severas contra o estupro.