A nomeação da então secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, para presidir a Caixa Econômica Federal, não implica reparação aos danos que o antecessor Pedro Guimarães impôs às funcionárias e à instituição.
No mínimo, as vítimas se livraram dos pesadelos, provocados pelos constrangimentos morais, emocionais e físicos decorrentes das atitudes e das palavras de calão de Guimarães direcionadas aos funcionários, hoje, de domínio público pelas gravações que chegaram à sociedade.
Ele se viu forçado a renunciar ao cargo, após ser acusado por várias funcionárias de assédio moral e sexual. Em uma longa carta, entregue ao presidente da República, ele tenta convencer os brasileiros de que ele é vítima de denúncias infundadas. Mas as gravações trazidas a público estilhaçam o seu argumento.
Os vídeos exibem um Guimarães autoritário, ameaçador e que age como se dono fosse da Caixa Econômica, instituição bancária estatal e patrimônio de todos os brasileiros. Se condenado, ele poderá ser punido com até dois anos de reclusão, pelos crimes de assédio moral e sexual, tipificados no Código Penal.
O escândalo ilustra, em boa proporção, o que as mulheres enfrentaram — em alguns casos, também, os homens —, na gestão de Guimarães, pela ausência de educação, respeito e urbanidade, após ele ter chegado ao mais alto nível hierárquico da Caixa, algo que se reproduz tanto na esfera do setor público quanto do privado.
Mostra ainda que essa falta de empatia se traduziu em abuso de autoridade contra aqueles que tornam reais as políticas da empresa, fundada em 1861, para atender a sociedade brasileira, principalmente, os trabalhadores.
O ocupante do cargo de chefia agia como torturador, tendo a certeza de que aos oprimidos não restaria outra opção senão a aquiescência e a submissão aos seus caprichos. Desta vez, as mulheres inverteram a lógica, denunciaram e expuseram o comportamento vil do chefe — algo permitido em um regime democrático, que assegura o direito de fala e de denúncia aos cidadãos.
Foram três anos de abusos. Em 2019, o Blog do Vicente denunciou, sem citar nomes, o inadequado comportamento do então presidente da Caixa, dentro do carro oficial. O motorista que flagrou o episódio foi demitido.
Impõe-se à nova direção da Caixa colaborar com a polícia e o Judiciário, para uma apuração rigorosa desse execrável episódio, que macula a história da instituição. Mas não só isso. Torna-se imprescindível restabelecer o respeito a todos os funcionários, a fim de que a dignidade dos trabalhadores não seja conspurcada por atos de retaliação ou quaisquer outros artifícios intimidatórios.
A Caixa, bem como os demais órgãos públicos, não são de domínio desse ou daquele gestor. Pelo contrário, pertencem ao povo brasileiro e é inadmissível que sejam aparelhados para atender a interesses que não sejam compatíveis com os demandados pela sociedade.