O Distrito Federal, em maio último, manteve elevado número de pessoas ocupadas — quase 1 milhão e quatrocentas mil pessoas. Segundo dados de abril último da Codeplan, a taxa de ocupados aumentou cerca de 5%, o que é positivo na medida em que a pandemia continua elevada. O desemprego arrefeceu, todavia manteve-se em patamar alto, ou seja, 262 mil, ainda segundo a pesquisa da instituição citada, mas 20 mil empregos a menos do que no mês anterior. O desemprego só não foi maior devido ao serviço público que aumentou em cerca de 19,2% e aos serviços com aumento de 9,1%. Isso revela que a população ainda procura os serviços públicos e privados para alguns fins básicos da vida cotidiana.
Apesar da redução do desemprego, ainda se deve ter alguma preocupação, pois, de alguma maneira, indica duas possibilidades: uma — muitas pessoas ainda devem se ocupar com trabalhos esporádicos, nem sempre positivos para manter pessoas de uma família média de cinco pessoas; em segundo lugar, as instituições de segurança do DF devem se manter em alerta para possível aumento da instabilidade social ou, melhor dizendo, aumento da violência.
Mas essa constatação deve ser comparada com anos anteriores para ter certeza de ações futuras. O porte de armas de fogo (revólveres) e armas brancas (faccões e punhais) tem sido usado para cometer crimes contra a vida de desafetos. São necessárias ações ou políticas públicas para manter a segurança da população, ao tempo em que se restringe o porte de armamento. O uso ilícito de armas deve ser constantemente vigiado e combatido por parte das forças de segurança.
A violência, de modo geral ligada também ao tráfico de drogas, pode se associar ao desemprego aqui e em outras capitais do Brasil ou de outros países. Essa violência pode chegar ao extremo de eliminação de pessoas, seja por competição no comércio ilegal de drogas, seja por motivo de dívidas contraídas no consumo de entorpecentes. Essa violência é de difícil diagnóstico porque, em geral, não se faz boletim de ocorrência na polícia por óbvios motivos de que as pessoas não desejam se expor e porque também podem ser vítimas dos que comandam esse comércio em toda a parte.
Embora muitas pessoas se ocupem no tráfico, não há como fazer um levantamento dos envolvidos porque a atividade é desempenhada clandestinamente e raramente as autoridades conseguem desbaratar quadrilhas envolvidas nessa ocupação. Assim, não se pode dizer que os que traficam tenham uma ocupação qualificada por "emprego", já que atuam nos espaços escuros das cidades e metrópoles.
Segundo o Mapa da Fome, da ONU, há 33 milhões de brasileiros passando fome e 61 milhões que não estão comendo o suficiente como deveriam. Enquanto isso, o governo brasileiro afirma que o "Brasil está bem". Esse aspecto da fome e o desemprego maquiado mais parecem artefatos criados em tempos de campanha eleitoral para superar um quadro de desesperança que a população enfrenta no cotidiano.
A despeito de o Brasil ser um grande produtor de grãos, arroz, soja e feijão — muitas toneladas exportadas - não se procura manter o mercado interno acessível aos brasileiros, que, por isso, passam fome. Mesmo que se diga que há milhares passando fome e se forneça um quantitativo, pensa-se que é um dado subestimado. É subestimado porque nem sempre o levantamento verifica se a alimentação dos indivíduos é completa, três vezes ao dia e com as necessárias proteínas, vitaminas e fibras para sustentar, digamos, um trabalhador. Então, o faminto trabalha com menor capacidade produtiva — cansa-se com facilidade e o que produz não é suficiente para que permaneça no emprego. Ademais, a fome pode estar presente entre as crianças. Mesmo que se alimentem na escola, não há registros de quantas tenham o benefício.
Essa é uma avaliação que poucos fazem, simplesmente porque não se procede a um levantamento da capacidade produtiva média dos trabalhadores. Então, o descaso com a fome, que pode levar ao desemprego é algo preocupante. Não se pode afirmar que o desemprego de quase 300 mil trabalhadores é baixo, nem se esse percentual já foi mais alto: o que se deve é procurar uma sensível melhora na ocupação dos trabalhadores para que, com salários compatíveis, eles possam contribuir com aquilo que lhe cabe executar e que as empresas e governo que contratam saibam que a força de trabalho corresponde ao que se pode esperar e até aumentar os quantitativos ocupados.
* Aldo Paviani é geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.