A semana começa com boas notícias sobre um assunto que tem assombrado os brasileiros: a inflação. Enfim, há sinais de que o dragão da carestia pode dar uma trégua, pelo menos momentânea, ao bolso dos brasileiros. É o que mostra o Índice de Preços ao Consumidor — Semanal (IPC-S). Divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), o indicador desacelerou para 0,24% na segunda quadrissemana deste mês, após a taxa de 0,69% na quadrissemana anterior.
Outros dois dados positivos, anunciados pelo Banco Central, vieram do Boletim Focus, baseado na avaliação de analistas do mercado financeiro. Além de reduzir a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) — que mede a inflação oficial —, de 7,67% para 7,54% neste ano, eles elevaram de 1,59% para 1,75% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país).
Embora, para 2023, analistas tenham revisto para cima o prognóstico do IPCA, de 5,09% para 5,20%, e de haver mantido o do PIB em 0,50%, a expectativa de inflação menor e de melhora no desempenho da economia em 2022 chegou a animar investidores, que voltaram a apostar na bolsa de valores brasileira. Depois de encerrar a semana passada com perdas de quase 4%, o Ibovespa subiu 0,38%, ontem. Poderia ter sido melhor, pois passou boa parte do dia acima de 1%. Recuou afetado pelo resultado negativo de bolsas americanas. Em movimento inverso, o dólar, que começou o dia em baixa, fechou em alta de 0,37%, cotado a R$ 5,425.
Desgastado sobretudo pela disparada de preços, o governo Bolsonaro está diante de um problema que desafia não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro. Como mostrou estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), os efeitos da pandemia de covid-19 na economia global foram mais devastadores do que as duas grandes guerras mundiais juntas.
Não bastasse a catástrofe epidemiológica, a guerra deflagrada pela Rússia contra a Ucrânia agravou esse cenário, levando a uma escalada nos preços da energia e do petróleo em todo o planeta, com incidência direta no custo dos alimentos. O resultado disso é que a inflação disparou mundo afora. Em décadas, é a maior enfrentada pelos Estados Unidos, que corre o risco de entrar em recessão, e pela Europa. Aqui, é a pior desde o governo de Dilma Rousseff. Na Argentina, chegou a mais de 60% em junho.
Em ofensiva para melhorar a imagem do governo e dar sobrevida política a Bolsonaro, o Planalto conseguiu aprovar medidas, como a diminuição na alíquota do ICMS sobre bens essenciais, que levaram à redução do preço da gasolina, que beirava os R$ 8 e agora pode ser encontrado abaixo dos R$ 6. Também aprovou, no Congresso, na semana passada, uma proposta de emenda à Constituição que permitirá ao governo conceder aumento no Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e a criar vale-diesel de R$ 1 mil destinado a caminhoneiros.
Os dois movimentos são as grandes apostas dos governistas e aliados para frear o aumento de preços e turbinar a economia. No entanto, como têm validade apenas até dezembro próximo, especialistas alertam que haverá ganhos neste ano, mas sobrará uma conta salgada para 2023. Sobretudo devido à PEC dos Benefícios. Manobra usada para driblar o teto de gastos e a lei eleitoral, a proposta foi aprovada inclusive com apoio de opositores, que se viram numa sinuca: sem força política para derrubá-la, a maioria votou a favor, temendo o desgaste de ser contra a iniciativa que, num primeiro momento, beneficia principalmente a população mais pobre.
Nos dados do IPC-S, divulgados ontem, já se nota a influência das medidas tomadas para a redução no preço dos combustíveis. Da primeira para a segunda quadrissemana de julho, houve decréscimo em seis das oito categorias de despesas que integram o indicador, com destaque para o grupo Transportes, com queda de 1,10%, ante alta de 0,13%. Individualmente, os itens que mais contribuíram para a desaceleração foram a gasolina (-0,06% para -3,59%), a tarifa de eletricidade residencial (-1,02% para -2,29%) e o etanol (-7,04% para -8,00%).
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