Mônica C. Andrade Weinstein - Co-fundadora e Vice-presidente de Pesquisa, Desenvolvimento e Impacto no Alicerce Educação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em 17 de junho último, sua maior revisão da saúde mental mundial desde a virada do século. O trabalho detalhado fornece um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde, sociedade civil e outros com a ambição de apoiar o mundo na transformação da saúde mental.
De acordo com o mesmo documento da OMS, em 2019, quase um bilhão de pessoas — incluindo 14% dos adolescentes do mundo — viviam com um transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes, e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis. O abuso sexual infantil e a vitimização por bullying são as principais causas da depressão.
Desigualdades sociais e econômicas, emergências de saúde pública, guerra e crise climática estão entre as ameaças estruturais globais à saúde mental. Além disso, segundo a Global Learning Survey 2022, pesquisa encomendada pela Pearson em diversos países, inclusive o Brasil, a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia.
A percepção de que existe necessidade de as escolas não apenas abordarem, mas priorizarem a saúde mental está crescendo. A Global Learning Survey 2022 revelou que no Brasil 96% dos pais gostariam que as escolas fornecessem serviços de saúde mental gratuito aos estudantes, porém, somente 19% das escolas mencionadas pelos pais possuem este recurso. Globalmente, os índices ficam em 92% e 26%, respectivamente. Além disso, 67% dos brasileiros acreditam que as crianças deveriam ser introduzidas a programas e recursos de bem-estar e saúde mental desde os primeiros anos de vida escolar.
Um estudo publicado em maio deste ano, pelo governo americano e conduzido pela consultoria independente Institute of Education Science, indicou que, desde o advento da covid-19, 70% das escolas viram um aumento no número de alunos que procuram tratamento de saúde mental. Apesar de a associação entre a saúde mental e o desempenho acadêmico estar cada vez mais difundida, e de existir enorme demanda reprimida por tratamento, ainda há escassez de programas de saúde mental para escolares. Em alguns países, como Reino Unido e Canadá, a organização integrada dos sistemas públicos de saúde e de educação levou à implantação de serviços de saúde mental dentro das escolas. Nesses locais, a abordagem integrada entre educadores e profissionais da saúde mental tem permitido a resolução de problemas menos complicados dentro da própria escola, reduzindo a demanda por serviços especializados.
No Brasil, tradicionalmente, serviços de saúde mental não são prestados dentro das unidades escolares. Esse é um debate bastante complexo, sobretudo se considerarmos que o desenvolvimento integral saudável requer a integração de serviços de educação, saúde e assistência social. Talvez, mais importante do que a pauta de onde esse serviço estará disponível, é o tópico de como e quando ele poderá ser acessado.
É urgente pautarmos a discussão sobre como estenderemos serviços de saúde mental para os estudantes e professores brasileiros. Se queremos que as escolas formem cidadãos empáticos com uma motivação intrínseca para defender a paz e a democracia, precisamos oferecer as condições básicas para seu desenvolvimento integral saudável.
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