Os centroavantes combinaram de antecipar o tributo a Frederico Chaves Guedes na rodada passada do Brasileirão. Cano fez três gols contra o Corinthians. Pedro e Gabigol brilharam na vitória do Flamengo contra o Santos. Hulk e Eduardo Sasha lideraram o triunfo do Atlético-MG diante do Juventude. Vitor Roque aprontou no Allianz Parque e o Athletico-PR derrotou o líder Palmeiras.
Nenhum gol desses camisas 9 tocou o coração de quem ama futebol como o de Fred. A penúltima partida da carreira do segundo maior ídolo da história do Fluminense, atrás apenas do goleiro Castilho — que amputou o dedo para voltar a vestir a camisa tricolor —, foi digno de filme. A pedido da torcida, o maior artilheiro em atividade do Brasileirão entrou em campo aos 38 minutos do segundo tempo. Aos 45, acertou o gol de Cássio, alcançou a marca de 199 bolas na rede pelo time e pode arredondar para 200, hoje, contra o Ceará, na última partida oficial da carreira.
O gol 199 de Fred deu início a uma catarse no Maracanã. Não se sabia quem chorava mais. O ídolo ou os devotos de quem ajudou, em 2010, a encerrar o tabu de 26 anos sem título no Brasileirão, e repetiu a dose no bicampeonato de 2012. Do cara que desembarcou nas Laranjeiras, em 2009, vindo do Lyon, para impedir o rebaixamento do clube para a Série B na reação mais espetacular na era dos pontos corridos.
Fred se aposenta, entre outros motivos, porque um problema oftalmológico o atrapalha. Imagina se ele estivesse enxergando bem. O gol 199 mostrou que ele tem olhos nos pés. Ele finalizou com a categoria de um centroavante com visão periférica — requisito do ofício.
Apelidado injustamente de cone por quem só vê futebol a cada quatro anos para cornetar a Seleção na Copa, Fred desafia o futebol brasileiro a encontrar um clone dele. Ouso afirmar que hoje é a despedida do último camisa 9 romântico, à moda antiga. O derradeiro centroavante raiz em uma nação cada vez mais carente de um especialista. Basta observar o perrengue do Tite: quem é o camisa 9 do Brasil para a Copa?
Involuímos. A contar da Copa de 1982, ou seja, em 40 anos, a Seleção teve a seguinte sequência de centroavantes titulares no Mundial: Serginho Chulapa, Careca, Romário, Ronaldo, Adriano, Luis Fabiano, Fred e Gabriel Jesus. Os "Freds" estão em extinção no futebol.
Poucas potências da Copa têm um 9 para chamar de seu. Todos acima dos 30 anos. Atual campeã, a França desfruta do melhor do mundo Benzema. A Inglaterra ostenta Kane. A Bélgica, Lukaku. A Polônia curte de Lewandowski.
Perrengues das seleções à parte, desejo que Fred seja feliz no episódio final da carreira. E que hoje, o Maracanã, cenário do milésimo gol do Rei Pelé, seja palco, também, do ducentésimo gol do centroavante pelo tricolor. Quem sabe de pênalti, com todos parados à espera do último ato de um dos grandes personagens da história do futebol brasileiro.
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