ORLANDO THOMÉ CORDEIRO - Consultor em estratégia
As pesquisas de opinião têm revelado que cerca de 60% do eleitorado se definiu por uma das duas candidaturas que aparecem nos dois primeiros lugares. Esse percentual é resultado das respostas espontâneas em que não são apresentados os nomes dos concorrentes. Segundo os analistas de todos os institutos, nunca tivemos uma eleição do Brasil com tanto voto decidido a menos de 90 dias para o pleito.
Esse quadro tem dificultado a vida de candidatos que tentam furar a polarização. Nos últimos meses diversos postulantes foram ficando pelo caminho e, hoje, a aposta é Simone Tebet, até porque Ciro Gomes, em campanha há mais de um ano, não consegue crescer nas intenções de voto e ainda tem visto ampliar sua rejeição para um patamar equivalente ao do presidente.
Outro dado relevante é a identificação das questões ligadas, direta e indiretamente, à economia como as que preocupam a maioria dos eleitores, especialmente a inflação em alta desenfreada, com reflexo imediato no custo de vida de toda a população, particularmente da parcela mais pobre.
Tal constatação fez com que todas as candidaturas passassem a incorporar essa demanda em seus discursos e posicionamentos, a começar pelo próprio presidente. Desgastado por sucessivos escândalos em sua administração, não teve dúvida em criar programas emergenciais, cujo único objetivo é tentar reverter a desvantagem na corrida eleitoral.
Primeiro construiu a narrativa de que o aumento do preço dos combustíveis tinha dois grandes culpados: a Petrobras e os governadores. Em seguida, promoveu a quarta troca no comando da petroleira. E concluiu essa etapa do processo estimulando a criação e posterior votação pelo Congresso de uma PEC impondo um teto para a alíquota de ICMS sobre combustível, energia elétrica e telecomunicações.
E qual foi o comportamento da oposição? Para surpresa de muita gente, a maioria esmagadora dos parlamentares apoiou todas essas medidas. Até mesmo aqueles que pretendem disputar as eleições para governador em seus estados não se envergonharam de votar a favor, criando uma situação extremamente difícil para gestão financeira das unidades federativas em 2022 e 2023. A justificativa foi que não poderiam deixar apenas o governo federal ficar com os louros.
Cabe ressaltar que, no caso dos ataques sistemáticos à Petrobras, o governo conseguiu a adesão imediata de boa parte da oposição, com ex-presidente Lula e Ciro Gomes fazendo coro à ideia de se promover uma intervenção na estatal que passou a ser chamada de antipatriótica.
Não satisfeito com suas vitórias iniciais e diante do até então baixo impacto das medidas junto à população, o governo avançou ainda mais ao propor outra PEC, apelidada de "kamikaze", em que obteve um salvo conduto do Senado para fazer gastos extraordinários em ano eleitoral, violando completamente a legislação. E mais uma vez a oposição resolveu aderir com base na mesma justificativa, à exceção do senador José Serra que se manteve fiel as suas convicções. No momento em que escrevo essa coluna, a Câmara dos Deputados ainda não tinha votado, mas tudo indica que teremos resultado e comportamentos muito semelhantes ao apresentado pelos senadores na semana anterior.
Ora, são em momentos como esses em que a oposição deveria procurar se diferenciar do governo, mesmo correndo o risco de sofrer acusação de "votar contra o povo". Por outro lado, é forçoso reconhecer que muitos desses parlamentares e candidatos defendem posicionamentos ancorados na visão de que o Estado precisa assumir ainda mais funções como provedor na economia, para além das necessárias ações emergenciais.
Some-se a isso o oportunismo manifestado pelo governo e por parte da oposição que tentam acabar com a Lei das Estatais. Para quem não sabe, essa legislação foi criada para criar mecanismos de proteção das empresas contra a interferência política, com condições mais rígidas para o preenchimento de seus cargos de direção. Um exemplo de como era antes e que entrou para o folclore político foi a afirmação feita pelo então presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti, pressionando o governo Lula para nomear seu afilhado político na Petrobras. Era o ano de 2005 e ele fez a seguinte declaração pública: "O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero".
Enfim, mantido o cenário atual e se confirmadas as tendências apontadas nas pesquisas, crescem as chances de termos uma grave crise contratada para 2023. Está difícil enxergar uma luz no fim do túnel.
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