JOSÉ PASTORE - Professor da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio SP, é membro da Academia Paulista de Letras
O Brasil convive com um problema que se arrasta por muito tempo: amargamos, simultaneamente, a falta de empregos e a escassez de pessoal qualificado. Essa escassez é crônica, apesar da melhoria da educação. Em 1988, a média de anos de estudo dos brasileiros de 25 a 65 anos era de apenas 5,1 anos. Hoje, passou para 7,8 anos. Entre os jovens de 18 a 29 anos, 66% têm 12 anos de estudo ou mais. O setor público investe 6,3% do PIB em educação. O gasto por aluno na educação básica triplicou na última década, sem contar os gastos das famílias, que são consideráveis.
Apesar disso, mais de 70% dos estudantes do ensino médio não têm conhecimento adequado de português e matemática. Na economia, a produtividade nas últimas três décadas cresceu apenas 1% ao ano. Quando se analisa a situação educacional da força de trabalho, os números ainda são deprimentes. Cerca de 3% dos brasileiros que trabalham — os mais velhos — ainda são completamente analfabetos; 23% têm apenas alguns anos de escola do ensino fundamental; 8,5% completaram esse nível; 7,5% têm o curso médio incompleto; 33% completaram o ensino médio, na maioria dos casos de forma precária; 6,5% têm alguns anos de escolas de nível superior; e 18,5% conseguiram se formar nesse nível onde se registra igualmente um grande número de faculdades de baixa qualidade — quadro esse que foi agravado pela pandemia da covid-19.
Essa é a nossa situação. Ao lado de tanto desemprego, falta uma grande quantidade de trabalhadores bem educados, que tenham bom senso e lógica de raciocínio — as qualidades mais buscadas pelas empresas. Temos apenas 8% dos jovens matriculados em cursos de formação profissional enquanto a maioria dos países avançados tem 40% ou mais.
Em suma: o Brasil continua com uma força de trabalho mal preparada que mal atende as atividades simples ou rudimentares do comércio, serviços, mineração, agricultura etc., mas não atende as atividades dos setores que estão sendo cada vez mais ancorados em tecnologias modernas.
Dou um exemplo. O setor de tecnologia da informação (TI) precisará de mais de 800 mil profissionais bem formados nos próximos 4-5 anos. Só em 2021, o setor gerou 123 mil empregos, enquanto a oferta de profissionais [razoavelmente] treinados foi de apenas 53 mil. Esse quadro está se repetindo em 2022 com um agravante: os bons profissionais moram no Brasil e trabalham para o exterior. O setor da TI é essencial para a melhoria da produtividade e da competitividade das empresas e da economia brasileira.
Desembocamos novamente na necessidade de educação de boa qualidade. Não basta inaugurar escolas e lançar programas pomposos. Lembro aqui o grande fiasco do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que investiu R$ 38,5 bilhões em 2011/16, com resultados pífios ou desprezíveis.
Qualificação profissional não é para amadores. Bons mestres conhecem as profissões nos seus detalhes. Isso faz muita diferença, pois uma coisa é ensinar, outra é aprender. É disso que o Brasil precisa: que os jovens aprendam os segredos das novas profissões e estejam preparados para acompanhar o seu avanço pelo resto da vida. O que os atuais presidenciáveis têm a dizer nesse campo?
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