Todas as noites, enquanto você e sua família dormem tranquilamente, milhares de profissionais da saúde do Distrito Federal, estão envolvidos no mais estressante e urgente trabalho de atendimento aos socorridos que dão entrada, a cada instante, nos hospitais da capital. Os casos são variados e sempre graves. A interação entre os socorristas e o pessoal dos hospitais que estão de plantão madrugada adentro deve ser precisa e imediata.
É nesse ponto que todo o trabalho de socorro pode dar, ou não, os resultados positivos que todos esperam. Um atraso em cada um desses lados é fatal e pode custar a vida de muitos. Os socorristas que dão plantão nas diversas Unidades de Resgate dos Bombeiros, distribuídos por toda a cidade, trabalham incessantemente durante toda a noite, e sob todas as condições, buscando e levando para os hospitais mais próximos, vítimas de acidentes e outros cidadãos que necessitam de socorro imediato. Trata-se de um trabalho da mais alta importância.
O crescimento desordenado da capital nas últimas décadas, com o estabelecimento de centenas de novos bairros, a maioria erguidos sem muitas cautelas urbanísticas, com ruas e becos estreitos e sem iluminação, sem endereço ou CEP oficial, fez de muitas áreas periféricas do Distrito Federal, verdadeiros labirintos, onde nem a polícia ousa circular nas madrugadas. É em lugares assim, fora dos mapas da civilização, que esses socorristas resgatam, diuturnamente, vítimas de violência acidentes ou emergência física ou mental que assolam esse lado da cidade. São heróis anônimos que estudaram por anos para salvar os cidadãos.
Para esses profissionais que ajudam a zelar pelo seu sono tranquilo, sabendo que a cidade está entregue em boas e seguras mãos, a missão de conduzir para os hospitais é apenas a primeira e mais importante etapa do resgate. A segunda, o atendimento de emergência dentro das Unidades de Saúde, cabe, inteiramente, aos hospitais nas diversas regiões administrativas do Distrito Federal. É aí que todo esse trabalho encontra um diagnóstico duvidoso e falho. Não são raros os casos e os relatos de pessoas atendidas pelo serviço entrarem nos Hospitais Regionais e não encontrarem os profissionais que ali deveriam estar. "Estamos sem cirurgião" ou "estamos sem esse ou aquele especialista", é o que se ouve nessas unidades de saúde.
Nesse ponto o que resta fazer, e muitas vezes é feito, é levar o paciente para outro hospital, numa viagem em que a vida e morte estão sentadas frente a frente. Muitas são as vezes em que esses casos se repetem. Quem, geralmente, salva essa situação extrema é sempre o Hospital de Base, que fica sobrecarregado por não negar atendimento. No Hospital de Base de Brasília, estão os melhores profissionais de saúde de todo o Distrito Federal. Tanto médicos quanto pessoal de enfermagem. Quem precisou sabe. Quem um dia precisar saberá também.
Esse hospital tem salvado não só os pacientes que ali chegam, como ajudado a salvar também a imagem arranhada dos hospitais regionais. A questão é tentar entender como pode uma unidade de saúde como o Hospital de Base ser tão eficiente no que faz e ter, ao mesmo tempo e até com os mesmos recursos, outras unidades, como os hospitais regionais, apresentando tanta deficiência. Ou falta gestão nesses HRs, com severidade no controle de presença dos médicos, ou o caso é mais sério ainda. O que não pode é debitar boa parte do atendimento da população, apenas ao Hospital de Base.
Se fosse de interesse das autoridades, uma blitz incerta nos hospitais regionais feita pela Secretaria de Saúde poderia solucionar esse mistério que se repete com cada vez mais constância. Aos socorristas e às Unidades de Resgate dos Bombeiros e ao Hospital de Base, nossas agradecimento. Aos hospitais regionais, por enquanto, nossa esperança de dias melhores.