O mercado de trabalho dá sinais de reagir mesmo diante da sucessão de escândalos envolvendo o governo federal, da inflação elevada, das taxas de juros em ascensão e da campanha eleitoral invadindo a agenda do país. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram um saldo de 277 mil empregos com carteira, número acima das expectativas e superior ao de maio do ano passado. No ano, o saldo são 1 milhão de empregos formais, mas o número, embora expressivo, representa muito pouco diante do universo de brasileiros sem trabalho ou trabalhando na informalidade e esconde um efeito perverso: pode ser resultado da queda dos rendimentos, que vem sendo verificada há vários meses. Em maio, a renda média ficou em R$ 1.898,02, valor R$ 18,05 menor do que os R$ 1.906,54 de abril.
A taxa de desemprego fechou em 10,5% em abril, no menor patamar desde 2016, mas ainda há 11,3 milhões de pessoas em busca de um trabalho. Além disso, o total de empregos formais em maio (41,7 milhões) indica que 43% dos brasileiros trabalham com garantias legais, enquanto os outros 57% estão na informalidade. Essa precariedade do trabalho e a abertura de postos com carteira assinada aquém do necessário para equacionar os problemas do mercado de trabalho brasileiro deixam sensação de que a queda no valor do trabalho é que estimula as contratações. Mas também é mais percebida pela população diante dos aumentos constantes de combustíveis, alimentos e serviços. Para a maioria dos brasileiros, a maior preocupação hoje é com a inflação e o desemprego, conforme mostram pesquisas recentes. Levantamentos apontam ainda que o alto endividamento compromete as finanças das famílias.
A maior geração de empregos formais com redução da renda não é suficiente para permitir um equilíbrio nas contas dos brasileiros. Em maio, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,4% das famílias tinham dívidas a vencer no mês, com 28,7% tendo débitos em atraso. Além disso, o comprometimento da renda familiar com o pagamento de pendências chega a 30%. Com isso, todo o dinheiro extra que é recebido tem como destino prioritário o pagamento de débitos em atraso.
Levantamento da Acordo Certo mostra que dos valores do dinheiro restituído do Imposto de Renda, 34% vão para quitação de dívidas, 32% para as contas da casa e 19% para aplicação em investimentos. Outro levantamento da fintech Creditas mostra que 63% dos trabalhadores têm metade da renda comprometida com o pagamento de débitos. Com o aumento das taxas de juros, a tendência é de que esse quadro de endividamento e inadimplência aumente nos próximos meses, mesmo com os recursos extras das restituições do Imposto de Renda, do FGTS e do 13º antecipado.
Com esse cenário, o governo deveria ter como prioridade a geração de trabalho e renda, principalmente nas indústrias, onde os salários pagos são mais altos em relação a outras atividades, para efetivamente reduzir, no médio prazo, o contingente de pessoas vivendo na miséria. Auxílios para famílias, embora necessário, assim como a elevação do subsídio para o gás de cozinha ou a ajuda para os caminhoneiros são paliativos e não dinamizam a economia, uma vez que mal são suficientes para os gastos usuais dos brasileiros. Pagamento de auxílios aos mais necessitados é obrigação do Estado, mas de forma isolada essa ação contribui mais para consolidar a condição precária de parcela significativa da população do que para dinamizar a economia brasileira, que por mais um ano terá taxa baixa de crescimento econômico. Além de comprometer os gastos públicos.