Aborto. Eis aqui uma questão que, a princípio, deveria ficar apenas ao alvitre das mulheres e de autoridades femininas, por motivos óbvios. Mas, em se tratando de um assunto que, quer queiramos ou não, se estende para toda a família e, por tabela, acaba atingindo também a sociedade, o aborto é, de fato, uma discussão que diz respeito a todo o ser humano. Afinal, esse é um tema que fala de vida e de morte, de religião, de ética, de moralidade, de cultura, de ciência e de medicina. Não é, portanto, um tema vulgar, embora muitos o tratem assim. Por isso mesmo, não é nossa intenção tratar de um assunto tão sério em poucas linhas.
Não resta dúvidas de que o tema aborto é uma questão enciclopédica e que acompanha a humanidade desde as cavernas, sendo praticado de várias formas, por motivos diversos e ainda hoje é considerado um assunto controverso, muito longe de uma aceitação plena. A discussão aqui, em pleno século 21, embora muito longe de consenso, ganhou dimensão nunca antes verificada. A razão está no próprio alargamento das mídias sociais. Há hoje uma espécie de debate mundial sobre o tema aborto, catalisado pela Internet e que atinge praticamente todo o planeta.
Há ainda fatores de ordem demográfica a expandir essa discussão. Num mundo em que a explosão populacional é uma questão a propiciar o aumento de catástrofes, como a fome e as guerras, e que apresenta, paralelamente a esses flagelos, um esgotamento dos recursos naturais da Terra e uma paulatina destruição de meio ambiente e do habitat humano, a questão do aborto parece ganhar novos matizes, e não são raros aqueles que acreditam que esse pode ser um método para amainar esses problemas. Nada mais falso e mais distante da verdade.
O maquinismo político, com manobras vernaculares, tenta ludibriar a opinião pública sobre quando realmente existe vida, enquanto a ciência transparente mostra que "biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união entre óvulo e espermatozoide", como afirma José Roberto Goldim, professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O aborto não é solução, mas um problema e não será por meio de métodos que buscam a morte, que iremos encontrar soluções para a vida humana. Aliás, o aborto tornou-se, em nosso tempo atual, muito mais do que um problema de saúde pública e nos remete, isso sim, a uma questão que tem muito mais implicações de ordem ontológicas. Ou seja: é, antes de tudo, o resultado do empobrecimento do fator humano inerente a todos. Em suma, o aborto aumenta, na contramão das características humanas.
O abandono do humanismo tem nos levado ao beco imundo e sem saída do abandono da vida. A decisão, tomada agora pela Suprema Corte americana, proibindo constitucionalmente a prática do aborto e delegando essa matéria para o veredito dos estados da União, não representa um retrocesso e sequer um lavar de mãos sobre esse delicado assunto. A Suprema Corte Norte Americana levou 52 anos para tomar uma decisão depois de ter sido enganada, ludibriada e iludida por Roe McCorvey, que confessou não ter sido estuprada como declarou. Sarah Weddington, advogada de Roe justificou as acusações de estupro sustentadas até que o caso chegasse à Suprema Corte, dizendo, anos depois da falsa acusação, o seguinte: "Minha conduta pode não ter sido totalmente ética. Mas eu fiz porque pensei que havia boas razões".
Em se tratando de uma autêntica federação de estados, com independência de cada membro da união, a corte americana sinalizou que, internamente, seus membros, formados por juristas do mais alto gabarito, não concordam com essa prática, mas, ao mesmo tempo, não podem impedir, por razões constitucionais, os estados de praticá-las. Aqui mesmo, no Brasil, o caso da menina de 11 anos que engravidou e foi induzida pela juíza do caso a não abortar vai, a cada dia, ganhando novos contornos, embora todo o caso corra em segredo de justiça.
Há suspeitas de que ela tenha mantido relações sexuais com outro menor de idade, o que pode dar uma reviravolta em todo o caso. Das infinitas opiniões sobre o tema, talvez as melhores fiquem por conta daquelas mulheres que fizeram o aborto e, passado um tempo para reflexão e amadurecimento, se arrependeram e chegaram à conclusão que jamais voltariam a fazê-lo novamente.
Por certo, esse é um assunto que não acaba aqui nesse texto com um ponto final, mas que irá, com certeza, se estender pelo tempo. Por certo, também, é que não será por meio da morte de um ser inocente que a questão maior, que parece ser a vida dessas mães, ganhará um desfecho feliz e pacífico.