OPINIÃO

Ana Dubeux: 'Brasília entra no jogo das eleições'

"Vi muita coisa acontecer. Vi gente graúda cair, gente simples chegar ao topo, vi amigos governarem, errarem e acertarem no poder. Hoje, preservo as imagens do caminho"

Quando soa o apito de início das eleições, o barulho só cessa quando as urnas são recolhidas. Nessa época, Brasília se transforma, assim como cada canto do país. Os níveis de tensão alcançam outros patamares e é um tanto comum que, a depender da polarização e do tamanho da cobiça, a gente perceba o fogo amigo crescer suas labaredas. Não se espante ao ver amigo jogando contra outro amigo, irmão contra irmão.

Já acompanhei muitas eleições e vi esta capital linda, acolhedora, vibrante e plural se transformar ao vivenciar cada estressante período eleitoral. Porque as pessoas também se transformam. Para o bem e para o mal. Procuro então administrar meu próprio estresse. Afinal, estou por aqui desde que Brasília tinha governadores biônicos e não existia o direito de eleger seus próprios políticos. Faz parte.

Hoje, recorro aos ensinamentos de uma caminhada de 240 quilômetros até Compostela, que fiz recentemente. São eles que me colocam de novo no eixo. O milagre do Caminho de Santiago é converter em magia as coisas simples. O simples e não necessariamente fácil é evitar se contaminar com o jogo sujo que vem dos esgotos e trilhar a caminhada com consciência e sanidade preservadas. Corpo e mente em harmonia.

Não, eu não vou trilhar pelos ralos fétidos de fábricas de dossiês, fake news, etc. Há um tanto de gente falsa e desonesta que tem predileção por prejudicar pessoas honestas que habitam Brasília e que podem nos conduzir a caminhos melhores.

Desse lugar de onde acompanho a vida pública e escrevo — ora como repórter, acompanhando candidatos a governo, ora como coordenadora de política e colunista, ora como editora de Cidades ou diretora de redação, onde me encontro hoje, vi muita coisa acontecer. Vi gente graúda cair, gente simples chegar ao topo, vi amigos governarem, errarem e acertarem no poder.

Hoje, preservo as imagens do caminho. Ele me ensinou que nada é tão grandioso que possa abater um voo digno, nem tão poderoso que seja capaz de colocar o genuíno, como uma bela amizade, em jogo e em risco.

Brasília nos dá a chance de fazer grandes amizades e boas fontes; de dar risadas e compartilhar segredos; de lidar com tristezas e decepções. Guardo tanta coisa desses períodos eleitorais. Entrevistas, fotos, vídeos, áudios. Quem sabe um dia não abro minhas gavetas e arquivos, um dia talvez…

Numa caminhada longa como um processo eleitoral, ficarei com o essencial, como me ensinaram os fisioterapeutas Rogério Canuto e Fernando Calixto, além do treinador Leandro Monteiro. Cada um deles, a seu modo e no seu tempo, me passaram informações sobre manter a linha, a consciência corporal, a postura, os limites.

Eu reaprendi a andar com eles. E com os amigos e chefes descobri que uma eleição aqui é como uma caminhada que testa seu corpo físico e sua mente às vezes cansada: exige fôlego, confiança e determinação — sobretudo, ética. Não sei se chegarei até 2 de outubro com todo o vigor, mas não me faltará a coragem de enfrentar as tormentas. A coragem é meu vício favorito. Inclusive para lidar com fogo amigo — ou falso amigo (tanto faz).

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