HAROLDO CORREA ROCHA - Coordenador-geral do Movimento Profissão Docente
HELOISA MOREL - Diretora executiva do Instituto Península
"Quando eu crescer, quero ser professor." Essa é uma afirmativa muito comum, especialmente entre meninas, por motivos econômicos, sociais e culturais que a história ajuda a entender. Esse desejo pode ser explicado pelo fato de a docência ser umas das profissões mais presentes na vida das crianças: todos os dias, muitas horas por dia, por décadas. Outro dos fatores tem relação com o fato de o ensino e a aprendizagem serem fenômenos relacionais, e não são poucas as histórias de vínculos transformadores entre alunos e seus professores.
Pesquisa feita no Chile, que procura medir a valorização social da profissão naquele país, questiona a posição das famílias sobre a seguinte afirmação: "Eu apoiaria meu filho se ele quisesse estudar para ser professor". Não conhecemos — embora possamos intuir — as respostas dos brasileiros, mas sabemos que apenas 5% dos nossos jovens, no momento da escolha profissional, decidem ser professores. Desses 5% que desejam ingressar na docência, a maioria são mulheres (61%), com renda de até R$ 1.999 (49%), de escolas públicas (90%), de cidades com menos de 100 mil habitantes (41%), filhos de professores (25%).
Isso fala muito a respeito de uma profissão cujos protagonistas — os professores — são, como apontam as pesquisas, o fator intraescolar mais relevante para a aprendizagem dos alunos. Em um país que ocupa os últimos lugares no ranking de desempenho de estudantes e pode ter, pós-pandemia, um retrocesso de até 10 anos nos resultados desses alunos nas avaliações nacionais, esse não é um fator periférico.
De acordo com a pesquisa "Valorização da carreira docente: um olhar dos professores", realizada em 2021 pelo Instituto Península, 77% dos professores acreditam que sua profissão não é valorizada no Brasil e 74% afirmam que não são respeitados pela sociedade em geral.
Jovens que não cogitam a ideia de se tornarem professores julgam que a profissão não vale a pena. O que desmotiva para a escolha da carreira são estereótipos e senso comum: "não tenho paciência ou vocação"; "ser professor é complexo ou desafiador demais" ou ainda "professor ganha muito mal e não vou conseguir sustentar a minha família".
Ensinar é de fato uma tarefa complexa, que mobiliza e conecta diferentes tipos de conhecimentos, abarca múltiplos objetivos, para alunos com necessidades diversas. No caso de países muito desiguais como o nosso, acrescenta-se o contexto de vulnerabilidade social que torna a equação ainda mais desafiadora. Porém, não é uma escolha para vocacionados, muito pelo contrário: requer alto grau de profissionalização, o que justifica as discussões sobre remuneração que ganham espaço nos últimos anos. Discussões com alto grau de relevância e já com indicadores de sucesso, mas que não abarcam todas as necessidades de uma profissão que demanda urgente revisão.
Nos países mais bem posicionados nas avaliações internacionais — como Alemanha, China, Cingapura, Coreia do Sul, Estônia, Finlândia, Japão, Polônia ou Suécia — professores gozam de prestígio social para além de condições atrativas de carreira. A formação é rigorosa, o ingresso na profissão é concorrido e está garantido um lugar de respeito e destaque na sociedade.
A Frente Parlamentar Mista de Educação lançou a Campanha de Valorização e Desenvolvimento Docente, na Câmara dos Deputados em Brasília/DF, reconhecendo deputados e senadores que demonstraram seu compromisso com os professores brasileiros, formulando ou fazendo a relatoria de projetos de leis voltados para os temas centrais da agenda para professores: atratividade, formação inicial, carreira e satisfação. São avanços importantes, mas não suficientes. Há um caminho longo a percorrer.
Políticas públicas voltadas para a valorização e o desenvolvimento de professores é o caminho mais rápido para conseguirmos a qualidade de que nossa educação precisa, posicionando-a como parte fundamental da estratégia de desenvolvimento de nosso país. Essa ideia precisa estar nos radares daqueles que tomam decisões e formulam nossas leis. Essa é a urgência. Esse é o convite.