» Sr. Redator

Direto no estômago

A consciência política de Ferreira Gullar (1930-2016) rendeu textos primorosos, a exemplo do poema O Açúcar: "O branco açúcar que adoçará meu café/nesta manhã de Ipanema/não foi produzido por mim/nem surgiu dentro do açucareiro por milagre". Com sensibilidade, a voz poética esclarece o caso: "Este açúcar era cana/e veio dos canaviais extensos/que não nascem por acaso/no regaço do vale./Em lugares distantes, onde não há hospital/nem escola,/homens que não sabem ler e morrem/aos 27 anos/plantaram e colheram a cana/que viraria açúcar./Em usinas escuras,/homens de vida amarga/e dura/produziram este açúcar/branco e puro/com que adoço meu café esta manhã em Ipanema". O pior dos mundos acontece onde não há alimentação, saúde e educação. A fome tira o sustento básico de todos nós. Impede que a condição humana possa adquirir seu melhor progresso. Enfraquece os laços colaborativos que vão nortear as relações de convivência. Aumenta a competitividade e o egoísmo, acirrando a busca pelo pão nosso de cada dia. Revela a maior das violências: mentes e corações sob o domínio do estômago e do bolso. A economia da miséria decide quem vai viver e quem vai morrer. Estimula a covardia a céu aberto. Encoraja a máfia dos fariseus. Fabrica Lázaros a granel. Assassina a capacidade de elevar a vida para um patamar que seja melhor. A solidariedade artificial também tem culpa no cartório. Promove uma cúpula de bonzinhos desalmados que procuram faturar com essa realidade massacrante. Especialistas em fraternidade fajuta operam liberdades teóricas, enquanto a escravidão prática se realiza impunemente. Não há combate mais justo no mundo do que aquele voltado contra a fome.

Marcos Fabrício Lopes da Silva,

Asa Norte

Apelação publicitária

Além dos ipês floridos têm outras fontes da natureza a encantar nossos olhos brasilienses. São os canteiros dos retornos nas vias do Plano Piloto e os das quadras residenciais. Com os espaços abertos da cidade, se conjugam em sintonia natural. Parece que as mãos dos jardineiros da Novacap que fazem manutenção, são abençoadas pelo espírito do paisagista Burle-Marx. Não me incomoda os caminhões-pipa impedindo um pouco o trânsito quando estão aguando esses canteiros. É motivo nobre. Essa harmonia está no Plano Piloto, e, para isso, creio, há uma explicação. Não vemos em suas avenidas, quadras residenciais e comerciais exposição de outdoors roubando nossas atenções e prejudicando a beleza da cidade. Altos, estruturas metálicas de andaimes, refletores de alta amperagem, com imagens de televisores de muitíssimos polegares, esses equipamentos provocam poluição visual. Aniquilam a estética urbanística. Gritam aos nossos olhos: comprem, comprem! Hoje, a um clique no celular e no computador, com acesso à internet, tudo encontramos em sites de buscas. De agulha à avião, como é dito popularmente. Após a Ponte JK, na subida para o Jardim Botânico, nos paredões gramados, verdadeiro túnel ecológico a céu aberto, virou praga essas apelações publicitárias. São muitos. Fui a Taguatinga, um dia desses, e, lá também está infestado. Possivelmente, também nas outras cidades satélites. E qual é o porquê, então, de o Plano Piloto estar isento dessa apelação consumista desenfreada nesses aparelhos e o restante de seu entorno não? Já sei: é o patrimônio cultural da humanidade. E o resto é desumanidade? Essa não é uma questão do momento. O próprio CB abordou muito bem esse tema há muitos e muitos anos. Com certeza havia sanções jurídicas para esse segmento. No entanto, o tempo foi passando e esse setor empresarial foi aproveitando o esquecimento e retomaram essa invasão. Ah! Se os burocratas tivessem admiração por alamedas, talvez vossos corações repudiassem essas plantações artificiais. A publicidade é e sempre foi fundamental no contexto social. Mas sua invasão, por esse meio, desfigurando o espaço urbano, descredencia sua importância. Isso é válido para qualquer cidade. Creio.

Eduardo Pereira,

Jardim Botânico

Idosos

Excelente o artigo Avanço da idade impõe desafios para a inclusão (12/6, pág. 13). De fato, a previsão de mudanças estruturais no formato da pirâmide demográfica do Distrito Federal, com considerável alargamento de seu ápice, além da perspectiva de uma quase equiparação do número de idosos e jovens (até 14 anos), anunciado para 2030, notavelmente exigirá mais acolhimento social, planejamento em Infraestrutura, Políticas Públicas, prevenção — sobretudo, por meio da oferta de atividades físicas, a exemplo daquela realizada pelo movimento Amigos do Time Kobra, que atualmente coordeno, desde 2019 — bem como uma correta destinação de equipamentos voltados a tal finalidade, além de saúde gratuita e de boa Qualidade. Afinal, a formação de uma educação cidadã certamente envolve mais atenção e respeito com o tratamento das populações mais vulneráveis, exatamente por isso os idosos dispõe de um Estatuto específico (Lei 10.741, de 1/10/2003). Diante do exposto, pela importante iniciativa da abordagem da temática, iniciada no último domingo, parabenizo ao editorial do CB!

Nelio Kobra Machado, Asa Norte