EDA COUTINHO MACHADO - Fundadora do IESB e presidente do Conselho de Administração
O Correio Braziliense publicou, nos dias 3 e 4 deste mês, dois artigos sobre o ensino superior que me fizeram refletir muito. O primeiro, escrito por José Pastore, tem o título Universidade gratuita ou paga? O segundo foi escrito por Waldemiro Gremski, e tem o título Ensino superior: não há alternativa senão mudar. Esses são temas que sempre estiveram no meu dia a dia. Primeiro no meu mestrado e doutorado, feito na niversidade Estadual da Pensilvânia (USA). E depois, já quando estava na Capes e Sesu (durante 18 anos) e coordenava programas para melhorar o ensino nas universidades brasileiras.
Voltei ao passado muitas vezes, desde que li os dois artigos, e vi quantas horas essas mesmas perguntas eram feitas por Claudio Moura Castro, Edson Machado e Hélio Barros, meus chefes na Capes. E outras perguntas ecoaram nos meus ouvidos: autonomia universitária; funções da universidade; universidade para todos; ensino técnico e tecnológico; avaliação como estratégia de melhoria e muitos outros.
Sobre o primeiro artigo, o do Professor José Pastore, Universidade gratuita ou paga?, tenho muita clareza sobre a minha resposta: quem pode pagar deve pagar. A maioria dos jovens cresceu estudando nas melhores escolas particulares tanto no ensino fundamental, quanto no médio. Portanto, devem continuar pagando na universidade e deixar que a gratuidade seja para alunos que não podem pagar.
Convivo, no meu dia a dia, com esse problema. Tem sido muito difícil para alunos da classe C poderem pagar suas mensalidades no IESB, sem que eles tenham descontos/bolsas para fazerem seus pagamentos na data certa. Se não fizermos isso, só estudará no IESB quem pode pagar. Já levei muitas pedradas em situações que esse assunto foi discutido. Mas o assunto, na minha visão, envolve valores e justiça social. E tenho sido coerente com meus valores a vida inteira.
Quanto ao segundo artigo, escrito pelo professor Waldemiro Gremski, mostrando o contexto de hoje, em que a tecnologia precisa ser abraçada pelas universidades e disponível para todos seus alunos, há necessidade de uma visão de futuro, que avalie o que acontecerá para as instituições que não tiverem recursos para uma grande mudança nos seus investimentos, e na sua filosofia de educação.
E sempre caberá aquela pergunta feita por homens como Whitehead, Humboldt, Clark Kerr: "Quais são as funções da universidade?" A pandemia e a ausência de tecnologia na maioria das instituições de ensino superior mostraram o quanto de atraso isso causou na aprendizagem dos alunos. Felizmente, em 2001, o IESB adquiriu a melhor plataforma de aprendizagem do mundo — o Blackboard. Nossos professores foram treinados no uso da plataforma e a tradução para o português também foi feita por dois professores nossos.
A grande vantagem do IESB foi que seus professores já utilizavam a plataforma e em uma semana as aulas estavam ocorrendo tranquilamente. Muitos professores se acostumaram tanto com o uso da tecnologia no seu dia a dia que vários comunicaram que, se pudessem, gostariam de dar suas aulas na modalidade remota. Por parte dos alunos, grande parte deles informaram que estavam muito felizes porque seus professores estavam mais solidários e preocupados com a aprendizagem.
Nesse sentido, viu-se que a pandemia obrigou todos os professores a usarem a tecnologia. Não havia outra saída. E muitos foram criativos e usaram em suas aulas encontros mediados pela tecnologia zoom e fizeram muitas lives. Em um dos cursos do IESB, foram feitas 156 lives. Hoje, a pergunta que está sendo feita para coordenadores e professores do IESB é a seguinte: "Já temos a tecnologia. Agora é preciso saber qual é o aluno que queremos".
A visão de futuro do IESB precisa ser incansavelmente comunicada e socializada para que seja realizada na prática. O aluno que queremos ter é aquele que adquire a habilidade de pensar de maneira independente, que aprende a fazer as perguntas certas e pensar de maneira inovadora, com habilidades para planejar o futuro... E esse aluno precisa desenvolver habilidades interpessoais (soft skills) que o tornem um ser humano e um líder que fará as coisas acontecerem porque ele existe.
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