opinião

Visto, lido e ouvido: Programas sociais

O Bolsa Família e o atual Auxílio Brasil carecem de estratégias para que esses projetos sejam porta de saída da pobreza e um meio capaz de permitir a plena emancipação do cidadão e de sua família em relação à classe política

Transformado pela astúcia política de programa de transferência de renda para o combate à pobreza e à desigualdade em mecanismos claramente eleitoreiros e personalistas, o Bolsa Família, criado em 2003, e o atual Auxílio Brasil, tornado permanente este ano, carecem de estratégias para que esses projetos sejam porta de saída da pobreza e um meio capaz de permitir a plena emancipação do cidadão e de sua família em relação à classe política.

Pelo contrário, tanto um programa quanto o outro representam ainda uma amarra e um verdadeiro cabresto, imposto à parcela mais pobre da população, confinando-a dentro de um curral eleitoral moderno.

Em um país em que a pobreza sempre foi explorada de forma vil e interesseira, qualquer projeto social e econômico que poderia, em tese, servir para a redenção e para o crescimento nos Índices de Desenvolvimento Humano, acaba apropriado, de modo astuto por prefeitos, governadores, além do próprio presidente da República, dentro de uma estratégia traçada pelos especialistas de marketing de soerguimento político e de perpetuação no poder.

Mesmo que transformados em programas do Estado, ainda assim, esses projetos respondem muito mais aos interesses da classe política do que ao público-alvo. A mudança de paradigma nos programas sociais e que teve na figura da então primeira-dama Ruth Cardoso, sua principal artífice, foi capaz de transformar, num curto período de tempo, o que era assistencialismo e populismo em verdadeiro experimento rumo à cidadania plena.

Também pudera, ela não tinha ambições políticas ou eleitorais, sendo o seu programa, intitulado Comunidade Solidária, um plano genuinamente bem elaborado, por uma equipe altamente gabaritada, formada por técnicos e estudiosos dos problemas inerentes à desigualdade, muitos deles professores oriundos da Faculdade de Sociologia da Universidade de São Paulo.

"Combater a pobreza não é transformar pessoas e comunidades em beneficiários passivos de programas sociais. Toda pessoa tem habilidades e dons. Toda comunidade tem recursos e ativos. Combater a pobreza é fortalecer capacidades e potencializar recursos", defendia Ruth Cardoso.

Havia, naqueles anos, real interesse no problema da exclusão social e total desinteresse político ou partidário na implementação desse programa. Daí o seu êxito. Não surpreende que o Comunidade Solidária tenha rendido tantos frutos de qualidade, como o Bolsa Escola, o Cartão do Cidadão e outros, todos eles voltados para os aspectos da cidadania plena e longe dos antigos programas clientelistas, doados pelos políticos por uma das mãos e arrancado por outra.

 

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