O crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) — soma dos bens e serviços produzidos no país — no primeiro trimestre deste ano foi muito comemorado pelo governo, por um conjunto de fatores. Um deles, por contrariar as amplas previsões de analistas de mercado que, no início do ano, estimavam desde a possibilidade de recessão até uma alta residual que não passava de 0,5%. Em segundo lugar, porque esperava-se uma trégua na pandemia, mas, em vez disso, o mundo inteiro se viu às voltas com uma devastadora terceira onda de covid-19, que só começou a ser superada pelo Brasil em meados de fevereiro.
Esse mesmo tipo de embate entre especialistas e equipe econômica já havia ocorrido no início de 2021, quando o ministro Paulo Guedes falava em PIB superior a 5%, enquanto os analistas mais otimistas avaliavam que o país não chegaria a 3%. No fim, nem Guedes, que falava em crescimento em V, nem especialistas de fora do governo acertou as previsões. Mas o prognóstico de Guedes esteve bem mais próximo. A economia encerrou o ano passado com expansão de 4,7%. É verdade que muito do resultado aparentemente robusto se deve ao baixo crescimento de 2020, quando o PIB encolheu 3,9%.
Divulgado na última quarta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB de janeiro a março de 2022 avançou 1% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Foi o terceiro resultado positivo seguido, desde o recuo de 0,2% no segundo trimestre de 2021. Em valores correntes, chegou a R$ 2,249 trilhões, superando o patamar do quarto trimestre de 2019, no período pré-pandemia. Além disso, ficou 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica, registrado no primeiro trimestre de 2014.
No lado da oferta, o bom desempenho da economia foi impulsionado pelo setor de serviços, que responde pela maior parte da atividade econômica do país. Somente agora, com o fim de diversas restrições impostas pela pandemia, o segmento, que depende do contato direto com o consumidor, começa a iniciar o processo de recuperação. Cresceu 1%. Do lado da demanda, houve elevação de 0,7% no consumo das famílias, principal responsável pela expansão do PIB.
Segundo a agência classificadora de risco Austin Rating, o resultado do PIB do primeiro trimestre alçou o Brasil à nona posição no ranking internacional de desempenho econômico entre 34 países, enquanto economias fortes registraram crescimento modesto, como Alemanha (0,2%) e Reino Unido (0,8%), que ficaram, respectivamente, nas 20ª e 14ª colocações. No passado, nesse mesmo período, o Brasil ocupava o 21º lugar.
Trata-se de um salto e tanto se levado em consideração que o crescimento ocorre apesar de uma série de eventos adversos. Como a pior recessão da história do país, registrada no governo Dilma. Na sua breve gestão, Temer conseguiu iniciar o processo de recuperação. E a retomada do crescimento ainda patinava, no segundo ano da administração de Bolsonaro, quando foi atropelada pela pandemia, que segundo o FMI teve efeito mais devastador sobre a economia do que as duas grandes guerras mundiais juntas. Para completar, a guerra na Ucrânia agravou a situação. Não é fácil vencer a batalha que o Brasil tem pela frente, apesar de todo o otimismo do ministro Guedes.