Editorial

Visão do Correio: Geração insuficiente de postos de trabalho

A taxa de desemprego fechou em 10,5% em abril, no menor patamar desde 2016, mas ainda há 11,3 milhões de pessoas em busca de um trabalho

Correio Braziliense
postado em 29/06/2022 06:00 / atualizado em 30/06/2022 18:27
 (crédito: Diana Raeder/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Diana Raeder/Esp. CB/D.A Press)

O mercado de trabalho dá sinais de reagir mesmo diante da sucessão de escândalos envolvendo o governo federal, da inflação elevada, das taxas de juros em ascensão e da campanha eleitoral invadindo a agenda do país. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram um saldo de 277 mil empregos com carteira, número acima das expectativas e superior ao de maio do ano passado. No ano, o saldo são 1 milhão de empregos formais, mas o número, embora expressivo, representa muito pouco diante do universo de brasileiros sem trabalho ou trabalhando na informalidade e esconde um efeito perverso: pode ser resultado da queda dos rendimentos, que vem sendo verificada há vários meses. Em maio, a renda média ficou em R$ 1.898,02, valor R$ 18,05 menor do que os R$ 1.906,54 de abril.

A taxa de desemprego fechou em 10,5% em abril, no menor patamar desde 2016, mas ainda há 11,3 milhões de pessoas em busca de um trabalho. Além disso, o total de empregos formais em maio (41,7 milhões) indica que 43% dos brasileiros trabalham com garantias legais, enquanto os outros 57% estão na informalidade. Essa precariedade do trabalho e a abertura de postos com carteira assinada aquém do necessário para equacionar os problemas do mercado de trabalho brasileiro deixam sensação de que a queda no valor do trabalho é que estimula as contratações. Mas também é mais percebida pela população diante dos aumentos constantes de combustíveis, alimentos e serviços. Para a maioria dos brasileiros, a maior preocupação hoje é com a inflação e o desemprego, conforme mostram pesquisas recentes. Levantamentos apontam ainda que o alto endividamento compromete as finanças das famílias.

A maior geração de empregos formais com redução da renda não é suficiente para permitir um equilíbrio nas contas dos brasileiros. Em maio, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,4% das famílias tinham dívidas a vencer no mês, com 28,7% tendo débitos em atraso. Além disso, o comprometimento da renda familiar com o pagamento de pendências chega a 30%. Com isso, todo o dinheiro extra que é recebido tem como destino prioritário o pagamento de débitos em atraso.

Levantamento da Acordo Certo mostra que dos valores do dinheiro restituído do Imposto de Renda, 34% vão para quitação de dívidas, 32% para as contas da casa e 19% para aplicação em investimentos. Outro levantamento da fintech Creditas mostra que 63% dos trabalhadores têm metade da renda comprometida com o pagamento de débitos. Com o aumento das taxas de juros, a tendência é de que esse quadro de endividamento e inadimplência aumente nos próximos meses, mesmo com os recursos extras das restituições do Imposto de Renda, do FGTS e do 13º antecipado.

Com esse cenário, o governo deveria ter como prioridade a geração de trabalho e renda, principalmente nas indústrias, onde os salários pagos são mais altos em relação a outras atividades, para efetivamente reduzir, no médio prazo, o contingente de pessoas vivendo na miséria. Auxílios para famílias, embora necessário, assim como a elevação do subsídio para o gás de cozinha ou a ajuda para os caminhoneiros são paliativos e não dinamizam a economia, uma vez que mal são suficientes para os gastos usuais dos brasileiros. Pagamento de auxílios aos mais necessitados é obrigação do Estado, mas de forma isolada essa ação contribui mais para consolidar a condição precária de parcela significativa da população do que para dinamizar a economia brasileira, que por mais um ano terá taxa baixa de crescimento econômico. Além de comprometer os gastos públicos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.