O Brasil vem assistindo nos últimos tempos a um teatro de horrores. De Norte a Sul, o país virou palco para uma sequência de episódios que têm deixado a população assustada e fazendo a velha e batida pergunta: Onde vamos parar?
Em Santa Catarina, uma juíza da Infância e da Juventude impediu que uma criança de 11 anos, vítima de estupro, fizesse aborto. Tomou tal decisão à revelia da lei — que permite o aborto nessas circunstâncias. Pior: a magistrada, com a anuência de uma promotora de Justiça, tentou convencer a criança a segurar a gravidez e sugeriu que o filho fosse doado para fazer a felicidade de outra família.
Pior ainda: essa mesma juíza, Joana Ribeiro Zimmer, foi recentemente promovida, transferida para uma vara em uma cidade maior de Santa Catarina. A promoção não se deu por causa do episódio, mas provoca mais revolta na sociedade saber que uma juíza que não soube proteger e dar um tratamento digno a uma criança, que atropelou a lei, seja premiada pela própria Justiça.
No interior de São Paulo, uma procuradora do município de Registro foi agredida a socos e pontapés pelo colega, também procurador, dentro da repartição. As imagens da agressão e do desespero da mulher ao tentar fugir do covarde revoltaram toda a sociedade. Indignação reforçada pelo fato de que ele, logo após prestar depoimento na delegacia, saiu livre como um cidadão qualquer, pronto para cometer qualquer outro ato de violência contra mulheres. Somente ontem ele foi preso. Para a procuradora agredida, sobraram hematomas pelo corpo e muito medo de sofrer um novo ataque.
No Amazonas, fato que ganhou repercussão mundial, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira Araújo foram cruelmente assassinados simplesmente porque realizavam o seu trabalho, de defender as tribos indígenas e a floresta amazônica. Foi preciso uma pressão internacional para que o governo brasileiro e a polícia agissem e desvendassem o desaparecimento deles.
No Sergipe, a cena de horror que também rodou o mundo ficou por conta de policiais rodoviários federais, que prenderam um portador de esquizofrenia e o sufocaram com gás lacrimogêneo e spray de pimenta no porta-malas de uma viatura policial. Não foi um ato escondido, à noite ou longe de testemunhas. Foi uma tortura à luz do dia, com muitas pessoas vendo, filmando e pedindo que os policiais parassem.
No Rio de Janeiro, no fim do mês passado, nada menos que 23 pessoas morreram em uma ação policial na Vila Cruzeiro, boa parte delas não tinha mandado de prisão em aberto. Foi uma das operações policiais mais letais do estado, que resultou em cenas impressionantes, de corpos nas ruas e necrotérios lotados. Nada contra operações para combater quadrilhas de tráfico de drogas, mas é preciso investigar a ação policial. Não é aceitável que policiais ajam à revelia da lei e promovam matanças em favelas e bairros pobres como se fossem justiceiros.
É triste fazer essa constatação, mas o Brasil, que já foi chamado de país do futebol, do carnaval, do futuro, do povo alegre e hospitaleiro, está hoje mais para o país dos horrores e das aberrações. Onde vamos parar?
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