mercado de trabalho

Artigo: Contratando diversidade

Correio Braziliense
postado em 22/06/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

RUY ALTENFELDER - Advogado e presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas

CLAUDIA BBUZZETTE CALAIS - Diretora-executiva da Fundação Bunge

O mercado de trabalho está mudando rapidamente. Muito já se escreveu sobre a digitalização das relações profissionais, o impacto duradouro da pandemia e o crescimento da agenda ESG — todos movimentos reais e extremamente importantes para compreendermos o futuro da economia. Mas o que muda do ponto de vista dos recursos humanos?

Uma reportagem recente da Forbes listou três principais tendências para o futuro das contratações. A primeira delas é o uso mais intensivo de dados. A democratização de ferramentas de inteligência artificial (IA) vem permitindo sofisticar a busca por talentos, definindo de maneira mais precisa o perfil dos candidatos, projetando objetivos de médio e longo prazos. A segunda tendência é a preocupação com a diversidade nas equipes, um reflexo claro da agenda ESG que, entre outras coisas, define as corporações como protagonistas nos processos de transformação social.

Por fim, a terceira tendência consiste em valorizar a experiência dos candidatos. E não apenas a experiência profissional, mas, principalmente, de sua vivência. A ampliação dos critérios de contratação, abarcando pontos que vão além do conhecimento técnico e do currículo, pode ser mais eficaz na renovação de um quadro profissional.

Por muito tempo as empresas exageraram a importância do currículo para o preenchimento de vagas de comando. É claro que a formação acadêmica é um fator importante, mas é igualmente verdade que uma série de conhecimentos técnicos e habilidades profissionais podem ser desenvolvidos no próprio ambiente de trabalho.

O histórico profissional também não deve ser superestimado. Cada empresa é única e a experiência prática de um profissional em determinada companhia não reflete, necessariamente, seu comportamento em uma nova empresa. Questionar um candidato sobre sua experiência profissional sem levar em conta sua experiência de vida pode se revelar um esforço infrutífero. Ninguém dissocia completamente vida pessoal e profissional. O futuro da área de RH passa pelo reconhecimento de que bons profissionais — e, especialmente, bons líderes — são pessoas inteiras, cuja competência técnica é calibrada por valores oriundos de sua vivência fora da empresa.

Se os processos de contratação estão mudando tão radicalmente, a postura dos candidatos também precisa mudar. Levando em conta o clima atual do mercado, um primeiro conselho para um candidato seria este: seja íntegro e coerente com suas crenças e valores. Empregadores gostam de perceber que estão lidando com pessoas "de verdade", que têm personalidade própria e objetivos definidos.

Valorize a curiosidade. As empresas preferem profissionais interessados e questionadores, que investem continuamente em sua formação e procuram estar sempre bem informados. As ferramentas digitais abrem um mundo de possibilidades. A curiosidade por buscar esses dados e, principalmente, a capacidade de discernir a qualidade e veracidade das informações recebidas são habilidades fundamentais para qualquer profissional neste século.

Saber pedir ajuda. É importante desmistificar a noção de que recorrer a um colega de trabalho é sinal de fraqueza ou incompetência; pelo contrário, isso denota interesse e engajamento. Ademais, qualquer conhecimento só chega a nós por intermédio de terceiros, seja pela observação, seja pela busca ativa por informações que alguém disponibilizou. Bons recrutadores e boas lideranças compreendem que precisamos do outro para aprender.

Por fim, todo contratado precisa saber receber feedbacks, exercitando a escuta ativa. Esse é mais um instrumento poderoso de avaliação e aperfeiçoamento profissional, bem como de aprendizado sobre a cultura de uma empresa. Saber ouvir é fundamental para quem deseja crescer no ambiente de trabalho. Esse novo conjunto de expectativas contribui para a transformação acelerada da área de RH. Pelos próximos anos, é certo que os processos de recrutamento se tornarão cada vez mais inclusivos e holísticos, em consonância com os valores adotados por todo o mercado.

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