Editorial

Visão do Correio: Inflação fustiga o mundo inteiro

Correio Braziliense
postado em 14/06/2022 06:00

A escalada de aumentos de preços tornou-se um pesadelo mundial. Desde os países mais pobres aos mais desenvolvidos, o dragão da carestia não dá sossego a ninguém. Na última sexta-feira, o bicho medonho abriu a bocarra e surpreendeu ao torrar as previsões de analistas e chamuscar em cheio os Estados Unidos, com o anúncio de que em maio a inflação acumulada em 12 meses — medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) — chegou a 8,6%, a mais elevada dos últimos 41 anos no país, segundo dados do Departamento do Trabalho.

De forma praticamente unânime, especialistas estimavam que o pior da onda de carestia que assombra os EUA já havia ficado para trás. A expectativa deles era que o índice avançasse, no máximo, 0,7%. Ainda acima dos 0,3% de abril, mas em processo de desaceleração. O que veio, no entanto, foi uma inesperada alta de 1%. Na prática, é como se o dragão tivesse se fingido de morto e, de repente, deu um baita susto na turma que faz as contas no mercado financeiro, mas que não frequenta supermercados. E, por isso, não tem o mesmo termômetro do americano comum que sente o fogo diário do dragão no cangote.

Na avaliação de economistas, o aumento da inflação de maio nos Estados Unidos foi puxado, principalmente, pela elevação no preço global dos combustíveis, em decorrência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Mas as consequências do conflito bélico, na visão deles, vão além. Impactam fortemente, ainda, no custo de alimentos, aluguéis e saúde, entre outros. Nos EUA, o preço médio do galão de combustível (3,7 litros) encerrou a semana passada próximo dos US$ 5, o maior valor da história no país.

Na sexta-feira, não foram apenas os americanos que se sentiram ameaçados pelo dragão. Rapidamente, o forte cheiro de queimado espalhou-se e provocou um terremoto nos mercados. O tremor generalizado repetiu-se ontem. Sobretudo porque o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) deve decidir amanhã novo aumento na taxa de juros. E, devido à inflação nas alturas, existe o temor de uma elevação mais arrojada. No Brasil, na temida superquarta, também espera-se nova alta nos juros, que hoje está em 12,75% ao ano — a expectativa é de aumento de 0,5 ponto percentual.

Tanto nos EUA quanto no Brasil, o aumento nos juros usado para tentar frear a inflação tem efeito colateral: inibe o consumo e impacta no crescimento da economia. Assim como lá, por aqui o dragão também não dá sossego. Lá, o bicho terrível saiu da hibernação devido à pandemia de covid-19 e ganhou força depois que a guerra na Ucrânia jogou o preço do petróleo na estratosfera, mesmo os EUA sendo o maior produtor do mineral no mundo.

À conjuntura brasileira, somou-se mais uma tragédia cabeluda: o país ainda lutava para superar a maior recessão de sua história, iniciada no governo Dilma — e que começou a ser debelada na gestão de Temer — quando foi atropelado pela pandemia e, mais recentemente, pela guerra deflagrada pela Rússia. Na gestão Bolsonaro, antes de a crise epidemiológica atropelar a economia, a inflação oficial (IPCA) fechou 2019 em 4,21%. E a Selic estava em inéditos 2% ao ano em agosto de 2020. Hoje, a Selic — que chegou a 14,25% com Dilma — está em 12,75% e existe a expectativa de chegar a 13,25% amanhã.

Com relação a 2022, o IPCA acumula alta de 4,78% até maio. E bateu em 10,06% em 2021, quase praticamente igualando os 10,67% de Dilma em 2015, maior alta desde o Plano Real. Em defesa do atual governo, bolsonaristas citam estudo do FMI segundo o qual a pandemia de covid-19 teve impacto mais devastador na economia que as duas guerras mundiais juntas. E afirmam que Dilma não enfrentava sequer um cenário internacional adverso quando afundou o país numa recessão sem precedentes. O fato é que, no Planalto, a inflação é vista hoje como o principal motivo de desgaste do governo e inimiga número um da reeleição de Bolsonaro.

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