Paulo Gala
Mestre e doutor em economia EESP/FGV e professor e economista chefe do Banco Master
Segundo maior setor industrial do Brasil, a indústria química fica atrás apenas da indústria de petróleo e de gás natural. Em solo brasileiro, temos instaladas as principais companhias do mundo, não apenas pela nossa importância geográfica e tamanho de mercado, mas também pela riqueza e abundância dos recursos naturais.
Em nível global, é inegável o valor da nossa indústria para o desenvolvimento econômico, tanto de países de primeiro mundo, como de nações em desenvolvimento. Ela está presente na base da matriz de todos os segmentos da economia moderna, fornecendo produtos de forma visível e invisível, impulsionando o crescimento sustentável e justo das economias mundo afora.
A dimensão da nossa atuação está refletida em números. Entre 1990 e 2021, a demanda por produtos químicos no Brasil, teve crescimento médio anual de 3,1%, bem acima dos 2,2% de crescimento do PIB, o que chancela a elevada elasticidade média histórica de 1.4 vezes da demanda de químicos em relação ao PIB. Enquanto a produção interna subiu apenas 1,4% ao ano, menos da metade do crescimento anual do consumo aparente nacional, as importações cresceram 9,5%, três vezes acima do consumo aparente nacional.
Neste mesmo período os resultados do segmento apontaram para as oportunidades criadas pelo mercado e pelo crescimento da demanda. Oportunidades que poderiam ser convertidas em investimento local, gerando valor e renda para o país, mas as importações acabaram se beneficiando dessa alta, comendo quase 50% da fatia de toda demanda do mercado interno em 2021.
Além disso, o saldo da balança comercial do setor também cresceu de forma exponencial, passando de um déficit de cerca de US$ 1,5 bilhão, em 1990, para o recorde de US$ 46 bilhões em 2021. Ainda assim, em 2019, a indústria química brasileira alcançou a 6ª posição no ranking mundial, mesmo perdendo uma parcela considerável do mercado interno para as importações.
São indicadores que refletem a evolução das estratégias e comprovam a importância da nossa atividade. Somos responsáveis pela produção de plásticos, fibras sintéticas, peças automotivas, fertilizantes, e uma gama enorme de produtos. Também assumimos o compromisso de melhorar a qualidade de vida das pessoas, investindo em processos de menor impacto socio ambiental e apostando em programas de apoio às cadeias produtivas.
E, mesmo diante de tamanha excelência, ainda esbarramos na falta de competitividade. A consequente descontinuidade de diversas linhas de produção, motivadas pelo aumento das importações sobre a demanda, impactou o desempenho do setor e enxugou o uso da nossa capacidade. Nesse contexto, cabe observar que ainda há o cenário da pandemia, além dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.
Eventos, que sem dúvida, afetaram nossa atuação, ao mesmo tempo que nos trouxeram mais clareza à necessidade de o Brasil revisar suas estratégias de longo prazo, em especial no que se refere à segurança de importantes cadeias, como a alimentar, de saúde e de produtos químicos que estão na base de produção de fármacos, agroquímicos e fertilizantes, entre outros.
Cabe reiterar que, mesmo diante da nossa relevância e inquestionáveis desvantagens competitivas, nos últimos anos avançamos muito pouco nessa indústria. Pelo contrário! O que vimos foi a capacidade de produção doméstica sofrer uma grave retração e gerar um delicado processo de desindustrialização. A consequência é o impacto às mais diversas cadeias produtivas, processos e sistemas operacionais das corporações, afetando significativamente as atividades estratégicas dos negócios.
A percepção que temos é que falta política industrial por parte do Estado. Falta compreender a dimensão da nossa atuação e cabe ao Governo Federal assumir o papel que lhe é devido para promover o renascimento da indústria química brasileira. Já vimos isso em outros países e os resultados são extremamente positivos.
Precisamos que a oferta de matéria-prima assegure a competitividade das cadeias derivadas para captar mais recursos no País e temos muito potencial a ser explorado. Basta observar o gás natural no pré-sal, o grande diferencial que o Brasil oferece, e, sem dúvida, é uma das nossas principais matérias primas (e energético) para apoiar a retomada e crescimento do setor.
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