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Artigo: Cultura da doação

Correio Braziliense
postado em 08/06/2022 06:00
 (crédito: Daniel ROLAND / AFP)
(crédito: Daniel ROLAND / AFP)

LINA BOCCHI — Analista de relacionamento do Instituto Conecta Brasil

Não é novidade que a pandemia resultou em grande impacto na área social. No Brasil, problemas que já existiam foram alastrados, trazendo à tona a urgência de ampliarmos nosso olhar ao próximo, principalmente pessoas e comunidades em situação de vulnerabilidade. A resposta a esse grande desafio foi contundente, no primeiro ano da covid-19. Em 2020, as doações dobraram de 3,25 bilhões doados em 2019 para 6,5 bilhões, sendo que 88% desse total foram doações de empresas, segundo a pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (Bisc).

Hoje, 2022, já sabemos que o ritmo de doações desacelerou, muito em detrimento da crise econômica que assola o país. Porém, o que a pandemia nos mostrou foi muito além da comoção social com a necessidade do outro. As informações revelam um potencial muito grande de doadores e voluntários no Brasil.

Outra métrica interessante que comprova esse ponto é o número de voluntários ativos no Brasil, ou seja, pessoas dispostas a doarem suas habilidades e participarem ativamente na transformação da sociedade: são 57 milhões, de acordo com a terceira edição da Pesquisa Voluntariado no Brasil, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) e pelo Instituto Datafolha em 2021.

Os dados evidenciam que a cultura da doação pode — e deve — ser uma realidade nacional. Esse movimento nada mais é do que enraizar a doação e o voluntariado como parte ativa da nossa cultura, a partir do entendimento de que todos somos elementos da mudança positiva que queremos na sociedade. O Brasil ficou em 54º lugar no ranking de 2021 do World Giving Index (Índice Mundial de Doação), subindo 14 posições em relação a 2018, o que mostra que estamos avançando.

Além do comportamento ligado às pessoas e empresas enquanto potenciais doadores, a transparência das organizações da sociedade civil (OSCs) é essencial, visto que um dos maiores impedimentos dos concessores é a dúvida relacionada à destinação do recurso doado. É essa clareza que vai garantir ao projeto credibilidade para continuar e ampliar a atuação na comunidade e até expandir — evolução fundamental para manter a organização sustentável.

Atuando diretamente com o Terceiro Setor, sabemos que é imprescindível para as OSCs mostrar transparência por meio de um nível de organização e controle, que pode ser iniciado com processos simples como anotar nomes para elaborar um cadastro de pessoas assistidas, registrar fotos das entregas de doações e ações promovidas pela OSC, estabelecer controle de recebimentos, entre outras atividades que resultam na prestação de contas, ou seja, informar o doador sobre como os recursos foram utilizados. Quando essa ponta é fortalecida, as OSCs se desenvolvem e são vistas com mais credibilidade, podendo assim aumentar a captação de recursos.

Atualmente, com o avanço da tecnologia, instituições sociais ampliaram seu leque de divulgação, exemplo disso são as plataformas digitais. Em um mundo 100% conectado, é inegável a importância das OSCs estarem presentes on-line. Projetos como as plataformas digitais visam conectar instituições sociais a doares e voluntários, por meio da divulgação de campanhas de arrecadação e vagas de voluntariado, proporcionando uma oportunidade infinita para todos que querem ajudar o próximo de alguma forma.

Além disso, as plataformas exigem transparência por parte das OSCs e têm servido como crivo para que os doadores se sintam seguros em contribuir com causas com as quais se identificam, independentemente do local onde estejam. Isso acontece porque o cadastro na plataforma em si já é um indício de organização, pois, para se cadastrar, as instituições sociais passam por cuidadosa análise da equipe por trás da plataforma, atestando a confiabilidade nos trabalhos desenvolvidos por elas.

Por fim, cabe a nós enquanto cidadãos trazer visibilidade às campanhas e projetos nas nossas redes sociais, ampliando o alcance das instituições que conhecemos ou das causas com as quais nos identificamos. Precisamos, com urgência, falar mais sobre doações, contando sobre aquela causa que contribuímos para nossos pares, amigos, vizinhos. Aguçar a percepção em relação ao outro é o primeiro passo para fortalecer nossa cultura da doação.

 

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