MARCUS NAKAGAWA — Professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (Ceds)
Cada vez que chega o dia do meio ambiente, ou a semana ou o mês, sempre temos muitas entrevistas, artigos, palestras e aulas para fazermos. Mas sempre fico me perguntando se chamássemos em vez de meio ambiente de ambiente inteiro, será que as pessoas lembrariam desse tema o ano inteiro?
Lógico que entendo que estamos falando do meio em que vivemos. Mas na verdade vivemos nele inteiramente. Talvez seja somente um jogo de palavras, sendo o mais importante lembrarmos que o tal do meio ambiente está sofrendo muito e nós com ele.
Por isso, inclusive, criaram o Dia Mundial do Meio Ambiente que é 5 de junho. Nesse dia, no ano de 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma importante conferência que discutia o futuro sustentável e as relações entre os seres humanos e o planeta. No evento, que ocorreu na Suécia, conhecido como Conferência de Estocolmo, foi criado o Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ou em inglês o Unep — UN Environment Programme.
Esse momento foi importante para cair a ficha que os recursos que retiramos da natureza são finitos, ou seja, podem acabar. E o pior de tudo é que, além de arrancarmos mais do que precisamos e não distribuirmos corretamente entre as pessoas, sujamos e poluímos o que ainda não foi retirado.
Parece que essa equação não está fechando pela lógica e pela sobrevivência. Poucas pessoas com muito do que foi retirado do planeta e outras sem nada. Pior que aqueles que não receberam esse pedacinho do planeta (os recursos naturais retirados e transformados) estão sofrendo mais com a emergência climática. Existem até cientistas estudando a Justiça Climática, um conceito muito importante que precisamos divulgar cada vez mais.
Talvez seja porque muitas pessoas ainda não tenham entendido o que está acontecendo, ou pode ser que um grupo de pessoas esteja tentando manipular a importância de cada um dos assuntos tratados até agora. Tenho falado muito sobre o foco que damos para as coisas da vida e do que queremos efetivamente. Precisamos ficar muito atentos a isso.
Aquecimento global, queimadas, emergência climática, chuvas torrenciais, poluição dos mares, corais morrendo, consumo e geração de lixo desenfreado, agrotóxicos nos alimentos e nos rios, animais sendo extintos, fome, entre outros problemas do mundo e do planeta estão endereçados nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. Sim, sabemos quais são os desafios do mundo e um grupo de mais de 190 países definiram inclusive 169 metas dentro desses 17 ODS.
Quando falamos do meio ambiente, ou do ambiente inteiro, temos que saber que nós (pessoas) estamos dentro dele, e que o sistema econômico vigente também está dentro e depende dele. Para ilustrar melhor a tal da sustentabilidade dividiram o tema no tripé: ambiental, social e econômico. Atualmente as empresas e os investidores têm chamado de ESG essa temática. Mas foi só para ser mais didático separar os projetos, ações e indicadores. No final das contas está tudo dentro do mesmo planeta.
A sustentabilidade forte, que está ligada à economia ecológica, mostra que temos alguns limites planetários e que o progresso tecnológico e científico são fundamentais para minimizarmos os impactos na natureza ou até zerarmos. A corrida pelo zero waste (lixo zero) e pelo net zero (carbono neutro) pelas empresas está mostrando que temos sim evoluções no pensamento e nas atitudes. Os pactos internacionais e os acordos das empresas em vários segmentos têm evoluído e feito com que os investidores entendam a importância desses indicadores ambientais e não só os tradicionais indicadores financeiros, como estão acostumados.
Se compararmos tudo o que está acontecendo hoje com o começo lá dos anos 1970, evoluímos bastante, porém sinto que a conta ainda não está fechando, já que o fator do aumento da população exponencialmente é uma variável na equação que também acaba influenciando.
Passando por todos esses anos de Dia do Meio Ambiente, ainda acredito que o poder da transformação está na educação para a sustentabilidade e na mudança para um modelo de consumo mais sustentável.
Para a educação inclusive, no Brasil, existe a Política Nacional de Educação Ambiental (LEI 9.795) que deve "estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal".
E que o poder público deve "definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente".
E os meios de comunicação em massa devem "colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação".
E as empresas e todas as organizações devem "promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente". No caso da educação para sustentabilidade só temos que lembrar, ler, seguir e aprimorar essa lei.
Para o consumo mais sustentável, precisamos de mais empreendedores e intraempreendedores pensando, criando, desenvolvendo produtos e serviços com impacto zero ou impacto positivo ao meio ambiente e às pessoas. E o mais importante, precisamos de pessoas como você pensando e atuando no meio ambiente e no ambiente inteiro em que você vive.
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