Diante do risco de que possa haver desabastecimento de diesel, com racionamento do combustível, parece claro que o governo não tem uma estratégia para enfrentar um problema econômico que está mais relacionado a uma escassez do produto internacional em virtude do conflito na Ucrânia e às sanções econômicas impostas ao quarto maior produtor de petróleo do mundo. O quadro indica que deva haver ainda mais pressão na demanda por combustíveis com a China retomando a atividade econômica após pesadas restrições sociais impostas por uma nova onda de covid-19 serem flexibilizadas. O mercado mundial de petróleo empurra os preços do barril para um patamar superior a US$ 120 no curto prazo, com o aquecimento econômico da China associado à redução da oferta da Rússia dando suporte a este cenário, principalmente no que se refere a produtos refinados, diesel e gasolina.
Bravatas contra a Petrobras e ameaças à estatal ou mesmo sua inclusão no Programa Nacional de Desestatização não alteram em nada o quadro de preços de combustíveis pressionados e uma redução de impostos pode levar mais tempo do que o desejado para chegar às revendas, além de ser rapidamente engolida pela necessidade de novos aumentos nos preços do diesel, principalmente. Ou seja, o governo mostra total despreparo para lidar com uma conjuntura de crise anunciada.
A Petrobras alertou oficialmente ao governo sobre o fato de os estoques de diesel serem suficientes para menos de 20 dias e a condição de mercado de dificuldades na oferta do combustível, cuja demanda interna é suprida em mais de um quarto por óleo vindo de outros países. O Ministério das Minas e Energia disse que não há risco porque os estoques são suficientes para 38 dias e a situação está sendo monitorada. Mas o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou que há risco real de racionamento de diesel, sem que nenhum plano de contingência fosse anunciado.
Foi assim no ano passado, quando os reservatórios das hidrelétricas chegaram a um ponto crítico no período seco e o governo demorou a tomar a decisão de preservar água nas hidrelétricas. O resultado todos conhecemos. Não houve apagão e racionamento de energia elétrica, mas foi necessário um aumento extra da ordem de 7% nas contas dos consumidores que vigorou entre setembro passado e abril deste ano. A lógica foi forçar a redução do consumo via aumento de preços, o que, se adotado no caso dos combustíveis, seria uma catástrofe para a economia.
Um racionamento de óleo diesel no momento em que os indicadores dão sinais de um reaquecimento da economia brasileira, com queda do desemprego e crescimento dos serviços, afetará diretamente essa reação econômica e pressionará a inflação. E por falar em inflação, ela também é reflexo da política errática do governo, que, desde o início, abandonou os estoques reguladores de alimentos, usados normalmente para estimular a produção ao promover leilões de compra com garantia de preço para abastecimento dos armazéns, que, uma vez carregados, podem ser usados para aumentar a oferta e contribuir para a queda dos preços. A alta de preços dos alimentos é mundial, mas poderia ser atenuada no Brasil caso houvesse estoques reguladores.
É desejável que, em momentos de alteração das condições de mercado, com desequilíbrio entre demanda e oferta, existam planos previamente estabelecidos para que agentes econômicos tenham previsibilidade e confiança para investir, gerar emprego e renda. Sem planejamento e medidas prévias, resta aos brasileiros a incerteza, que agrava a desconfiança diante de um quadro de inflação e juros elevados. Hoje, os problemas no mercado mundial de combustíveis podem ser atribuídos à guerra no Leste da Europa, mas, se houver efetivamente necessidade de racionamento de diesel, o governo não terá como justificar se não agir agora.
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