Quem conhece sabe: não é fácil a vida de policial. Principalmente num país que desponta como campeão mundial isolado em violência urbana. Vivemos, à semelhança de outros países que estão em conflito aberto, numa verdadeira guerra civil, com parcelas significativas de nossas metrópoles ocupadas e dominadas pelas mais diferentes facções do crime organizado, com leis próprias e um estatuto de regras draconianas impostas por esses facínoras com tribunais do crime, com execuções sumárias e todo um clima de terror que somente as comunidades locais conhecem.
A lei do silêncio é regra que não pode ser descumprida, sob pena de morte. Aos fins de semana, em suas festas tribais, hordas de traficantes e outros meliantes desfilam pela comunidade portando armamento sofisticado e de grosso calibre, que nem o Exército Brasileiro sonha em possuir. Atirando para o alto dão proteção as feiras livres das drogas, que são vendidas e consumidas ao ar livre por parte dos jovens nessas comunidades.
Nesses territórios exclusivos só entram com autorização expressa desses criminosos. Para aquela parte da comunidade que, em segredo, não aprova esse estilo de vida e que teme por seus filhos, a solução é se trancar em casa, dormindo debaixo da cama, com medo dos tiroteios ou de outros justiçamentos que podem ocorrer por qualquer motivo e a qualquer hora. Nesse ambiente onde o valor da vida é menor do que o grama de cocaína, a desconfiança de tudo e de todos é total. Não se confia em bandido, mas também não se acredita em governo, prefeito ou vereadores e quaisquer outras instituições do Estado.
É em ambiente de terror como esse que milhares de policiais, em todo o país, são obrigados a adentrar, por ordens superiores, portando armas obsoletas e outros equipamentos de proteção ineficazes, ficando expostos à artilharia pesada dos bandidos.
Uma consulta aos números, sempre crescentes, de policiais que perdem a vida todos os dias neste país, em confronto com esses marginais, pode dar uma pequena noção da periculosidade dessa profissão. Para esses profissionais, os riscos de vida são permanentes dentro e fora da rotina de trabalho. Qualquer um desses profissionais surpreendidos por bandidos são imediatamente executados.
Centenas ou talvez milhares de policiais que morrem a caminho de casa depois de um dia de trabalho dão uma mostra dos riscos que essas atividades trazem para eles e suas famílias. Quantas viúvas, órfãos, pais e mães choram por seus filhos mortos impiedosamente por criminosos. Quantos profissionais, que por sua atividade de alto risco, tendo que conviver diariamente com a violência, não acabam internados em clínicas de doenças mentais, acometidos dos mesmos traumas que os soldados retornados de uma guerra.
Do mesmo modo que a esses profissionais não lhes é concedido o direito de matar, também não lhes é concedido o direito de viver. Vivem, por isso, numa corda bamba e corroída pela indiferença do Estado, expostos em manchetes de jornais de forma parcial.
Ao não darmos o devido valor a esses profissionais, o que estamos induzindo é o fortalecimento do crime e dos criminosos, dentro de uma justiça que, por desvios de conduta, acolhem e até beneficiam criminosos com regalias jamais vistas em outros países como progressão de pena, saída temporárias, visitas íntimas, conversas particulares com advogados e outros aviões do crime e uma série de outras regalias impensáveis em nações desenvolvidas.
Dentro desse ambiente de guerra contínua não pode haver meias medidas. Ou se apoia a polícia ou o bandido. Obviamente que as falhas nessa e outras profissões devem ser corrigidas, pois é sempre bom estar atento que o pior tipo de bandido é aquele que está escondido sob a farda de um policial. Para esse tipo específico de criminoso as penalidades devem ser exemplares e dobradas. É preciso entender que a noite de sono tranquilo, nesse país dilacerado pela violência, tem sido possível porque a polícia está de prontidão nas ruas, zelando por você e sua família.