Cultura
Ultimamente tenho lido jornais do final para o início. Busquei o sentido desse meu interesse e percebi que a arte da vida, como leitor, estava nas páginas de cultura, que ficam, digamos assim, de escanteio nas páginas finais. É lá, que o sentimento de bem-estar cultural, permeia nosso espírito. É lá, que podemos fisgar cenas de plasticidade da alma humana através de matérias enfocando a arte do impossível nas variadas formas de se interpretar a vida pelo teatro, pelo cinema, pela literatura, artes plásticas, música e demais variações subjacentes ao comportamento humano. É lá, que almejamos que a arte seja um ponto crítico da política, e não um encabrestamento dela. Longe da arte com amarras. Respeitando, sempre, a conceituação para uns, de que toda obra de arte é política, isentamente do autor. No reverso, as primeiras páginas são dedicadas à editoria de política, que, no jargão bismarckiano, é a arte do possível. Mas a sensação é de que esse 'possível', em nosso quadro político, tornou-se um adjetivo colérico, distante de efeitos positivos coletivos. Decifrando melhor esse meu sentimento: o Brasil parece ser uma grande engrenagem em que suas roldanas estão eternamente enferrujadas. Aqui, acolá, como faíscas, sopram ventos de fruição de um "agora vai!", mas não passam de lampejos. Falta lubrificação cultural. Falta algo mais profundo, como leitura de livros na veia! Daí, almejo, candidamente, que leiamos jornais de trás para frente para avançarmos rumo a um país civilizado, no que tem de mais expressivo esse termo.
Eduardo Pereira,
Jardim Botânico
Petrobras
Mesmo com um histórico extremamente negativo, Lula, líder nas pesquisas, corre o risco de ser eleito presidente. Em sua gestão, a doação da refinaria à Bolívia, a aquisição da sucateada refinaria de Pasadena, culminando com o Petrolão que quase quebrou a Petrobras. Se eleito, será o fim da picada. Errar é humano, mas persistir no erro é burrice. Melhor não arriscar. Daí, privatizar a Petrobras é evitar futuros problemas.
Humberto
Schuwartz Soares,
Vila Velha (ES)
Democracia
A colunista Circe Cu- nha (Correio — 26/05) destaca que o veterano e famoso jornalista JR. Guzzo chamou a atenção, na revista Oeste, há dias, para a escalada da orquestração de um golpe. As palavras de Guzzo são poderosas e amedrontam os legítimos democratas. A propósito, na edição do Correio Braziliense de 16/4, este escriba escreveu: "Fica cada vez mais claro, na medida que as eleições se aproximam, que Bolsonaro pretende virar a mesa, ganhar no tapetão, caso venha a ser derrotado por Lula. Resta saber se as Forças Armadas julgam procedentes e democráticas as ameaças do atual presidente. #ditaduranuncamais".
Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Nise da Silveira
Bolsonaro vetou o nome da psiquiatra Nise da Silveira — ícone da humanização compassiva do atendimento psiquiátrico — no livro Heróis e Heroínas da Pátria. Nise foi aluna do também psiquiatra Carl Gustav Jung, que desenvolveu a genial "teoria da sincronicidade", sobre a estreita conexão entre acontecimentos aparentemente aleatórios. Pouco tempo depois do veto, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), reduto bolsonarista, assassinaram um esquizofrênico em uma câmara de gás improvisada, perpetrando a antítese aterradora das ideias de Nise. O bolsonarismo, o veto a um nome que simboliza compaixão e o assassinato covarde pela polícia de uma pessoa com transtorno mental, tudo acontecendo em sinistra e estreita conectividade. Enfim, a sincronicidade junguiana saltando aos olhos de uma nação aterrorizada que percebe, cada vez mais nitidamente, que nada nesse governo é por acaso, nada é aleatório e tudo exala desumanidade e morte, com as bençãos ruminantes da maioria dos evangélicos.
Túllio Marco Soares Carvalho,
Belo Horizonte (MG)