O aumento no número de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) — sobretudo uma nova alta nas infecções provocadas pelo coronavírus — está levando prefeituras país afora a retomarem o uso de máscara em ambientes fechados ou locais abertos com aglomerações. Pelo menos uma capital, Curitiba, e cidades do interior de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná voltaram a recomendar o uso da proteção facial. Na capital paulista, mesmo sem determinação oficial, algumas escolas particulares também decidiram adotar a medida.
No mais recente Boletim Infogripe, divulgado na quinta-feira, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que os casos de covid-19 voltaram a crescer em todas as regiões do país. No estudo, que abrange o período de 15 a a 21 de maio, os pesquisadores destacam que 48,1% das ocorrências de síndrome respiratória aguda grave registradas nas últimas quatro semanas analisadas são decorrentes da covid-19. Além disso, 84% das mortes por Srag foram relacionadas ao coronavírus. No levantamento anterior, as infecções por Sar-Cov-2 correspondiam a 41,8%. E os óbitos, a 79,5%.
De acordo com dados coletados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a tendência de aumento nos casos de covid-19 captada pela Fiocruz nas últimas semanas estudadas manteve o viés de alta até a última sexta-feira, quando a média móvel de sete dias no país foi de 22.676 infecções por Sars-Cov-2 contra 13.953 no mesmo dia da semana anterior. Em relação aos óbitos ligados ao coronavírus, a média nacional entre os mesmos dias foi de 118 contra 102, repetindo a oscilação em torno de 100, que também se observa nos boletins mais recentes do Infogripe.
A situação do Distrito Federal ilustra bem a discrepância entre a escalada de casos de covid-19 e o de mortes pela doença. Na sexta-feira, o DF registrou 1.450 novas infecções, um crescimento de 255% na média móvel de contágios, enquanto não houve nenhuma notificação sobre óbito pelo segundo dia consecutivo. Em Minas Gerais, o quadro é semelhante. O contingente de infectados voltou a subir, enquanto o de mortes continua baixo.
Nos últimos 30 dias, até a sexta-feira, ninguém perdeu a vida para a covid em 752 municípios mineiros — um mês atrás, o número de cidades sem mortes estava abaixo de 700.
Infectologistas, como Hemerson Luz, observam que o aumento na quantidade de infecções por covid-19 e outras doenças respiratórias nesta época já era esperado devido a alguns fatores. "No tempo frio ocorre uma piora nas doenças infecciosas respiratórias, e a covid está nesse grupo", explica. Ele também associa o crescimento nos diagnósticos positivos de coronavírus à predominância da ômicron e das subvariantes da cepa, todas altamente transmissíveis. Para ele, a taxa de mortes não acompanha a de casos graças à imunização. "Essa questão vacinal tem que ser priorizada. Tanto a da covid-19 quanto a da influenza", diz.
Pesquisadores da Fiocruz também enfatizam a importância da vacinação e do uso de máscara — principalmente para os grupos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos — para frear tanto a escalada de covid-19 quanto de outras doenças respiratórias graves. Por isso, eles voltaram a defender a realização de campanhas de vacinação para ampliar a cobertura contra o coronavírus na faixa de 5 a 11 anos e a aplicação de doses de reforço na população adulta. Muitas vezes, a vacina pode até não evitar o contágio, mas é fundamental para amenizar a gravidade da doença e reduzir o número de internações e de óbitos.