"Quando eu olhei, não era mais eu, não sou eu com isso aqui. Para mim, ele me matou por dentro, acabou comigo com uma forma de me marcar e dizer que eu sou propriedade dele." Foi assim que Tayane Caldas, 18 anos, se viu depois de sofrer uma barbárie digna de filmes de terror. A parte direita do rosto escancara a covardia, retrata o sentimento de posse que covardes insistem em alimentar em relação a ex-parceiras.
Em 25 anos de jornalismo, não me recordo de ter visto algo do tipo. Tayane contou ter sido sequestrada, mantida em cárcere privado e torturada, antes de o ex-namorado Gabriel Henrique Alves Coelho tatuar o próprio nome na face da garota. Não foi a primeira vez. Tayane relatou à imprensa que, em outras ocasiões, o homem havia impregnado o nome dele no seio e na virilha dela.
Talvez o leitor questione o motivo pelo qual Tayane não rompeu o relacionamento antes. A resposta, infelizmente, está na palavra "medo". Assim como a jovem de 18 anos, outras mulheres temem colocar um ponto final no namoro com homens violentos e truculentos ante a possibilidade de serem assassinadas.
Em menos de 15 dias, duas mulheres foram executadas e carbonizadas no Distrito Federal. Brenda Pinheiro da Silva, 26 anos, e Marina Paz, 30, tiveram a vida arrancada com requintes de crueldade. Wallace Eduardo, 34, namorado de Marina, confessou o crime e contou que usou uma pedra para matá-la. Em 2022, foram contabilizados quatro registros de feminicídio no DF. No ano passado, oito. Um único caso representa uma tragédia.
Quem maltrata ou mata mulheres não merece ser chamado de "homem", muito menos de "ser humano". Está na hora de o Congresso aprovar penas mais severas para os crimes de gênero. A polícia e a Justiça também precisam supervisionar as medidas restritivas impostas a potenciais agressores e impedir um desfecho trágico. Cabe às autoridades coibir a misoginia, e criar políticas de proteção às mulheres vulneráveis.
Toda mulher precisa ser respeitada, valorizada, amada e ter liberdade para amar quem e como quiser. Covardes precisam entender que relacionamentos, vez ou outra, acabam, e que a mulher possui todo o direito de reconstruir sua vida em paz e com tranquilidade. Tem o direito e o dever de ser feliz. Nenhum homem é dono de mulher. É quase praxe: os assassinos dizem que "mataram por amor" ou que a paixão os cegou.
Não, não se mata por amor. Quem ama, cuida, respeita. Quem ama não tatua na pele e na alma da mulher as marcas de uma violência que ela carregará por toda a vida. Isso quando não é privada de viver. Quem ama não derrama sangue nem lágrimas alheias. Quem ama apenas ama e, quando não é mais amado, deixa partir, porque deseja a felicidade de quem um dia lhe fez o bem.