Se, por detrás de cada palavra, isoladamente, esconde-se um mundo infinito de interpretações, que dirá de frases inteiras ou mesmo de discursos. A insistência dos políticos em fazerem discursos intercalados de parábolas, quer para fugir do efeito direto da verdade dos fatos, quer para não dizer o que dizem, não apenas confunde os interlocutores, como deixam uma série de interrogações soltas no ar. Deixem as parábolas com Jesus, porque Ele, sim, sabia do que estava falando e para quem falava.
Foi justamente esse modo apropriado de analogia que fizeram dos ensinamentos de Cristo um modelo que se perpetua até aos dias de hoje. O perigo em discursos feitos de improviso, quando o cérebro tem que trabalhar mais rápido do que a língua, é que muitos dos boquirrotos que infestam o mundo da política nacional, acabam entregando de bandeja o que pensam realmente sobre determinado assunto, bastando para o ouvinte atento uma leitura mais acurada do que estão falando.
Por certo, o mais fácil paciente num divã de psicanálise é o político profissional, bastando ao especialista fazer uma leitura de cada palavra escondida, trocando-lhes o sentido. Parafraseando Millôr Fernandes, como são éticos e sábios os políticos que não conhecemos. Pesado na balança da honestidade, nada do que dizem vale um pataco. O pior é que, mesmo com toda essa mímica verbal, o que esses personagens políticos anunciam acaba por interferir negativamente na vida de cada um. É preciso, pois, ficar atento ao que dizem e não deixar passar nada. Caso contrário, corre-se um risco grande.
Nesse sentido e tendo como pressuposto o que acaba de dizer o ministro Edson Fachim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, quer queira ou não, também adentrou no mundo pantomímico da política, juntamente com seus pares, é preciso analisar com cuidado sua afirmação: "quem cuida das eleições são as forças desarmadas".
Primeiro, quando diz que não quer mandar recado, o que pretende é justamente o contrário, mandar um aviso a todos aqueles que buscam colocar interrogações, pertinentes ou não, ao sistema eletrônico de votação. Essa não é uma discussão encerrada e nem será enquanto personagens da política, nesse caso, de toga, insistirem em falar por parábolas. Ora, que forças desarmadas seriam essas, ao qual o ministro se refere?
Para uns, poderiam ser as forças desarmadas de bom senso. Ou desarmadas do devido recato que o cargo requer. Ou pior ainda, seriam essas forças desarmadas as mesmas que cuidaram de desarmar todo o volumoso e custoso processo da Lava-Jato? É preciso lembrar ao ministro, indicado por Dilma Rousseff em 2015, que a caneta, capaz de fazer "descondenar" um criminoso, é muito mais poderosa e mortífera.