Dois dados recentes reforçam a necessidade de as autoridades de Saúde no país continuarem atentas à evolução da covid-19 e, também, do vírus influenza A (gripe). Divulgado na última quinta-feira, o Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), identificou que 14 estados tiveram aumento nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) entre adultos. Outra questão que preocupa é a imunização contra o coronavírus. Como vêm alertando pesquisadores, é preciso avançar na vacinação infantil e na aplicação das doses de reforço nas pessoas com idade mais avançada.
Até a sexta-feira, mais de 88% da população que hoje é alvo da campanha nacional de imunização — pessoas com 5 anos ou mais — havia tomado pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19; e passava de 82% o percentual daqueles que estavam com o ciclo vacinal completo. Na faixa etária com 18 anos ou mais, a única autorizada a tomar dose de reforço até o momento, 54,39% tinham recebido a injeção extra. No entanto, entre as crianças de 5 a 11 anos, a taxa dos parcialmente imunizados era de 58,14%. Nesse grupo, apenas 27,89% estavam com a vacinação completa (duas doses).
No boletim InfoGripe, pesquisadores analisaram informações referentes à semana epidemiológica de 24 a 30 de abril. Nesse período, eles observaram leve crescimento no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre adultos, depois de quatro semanas em queda. Antes, a tendência de alta nas internações relativas a viroses respiratórias se restringia a crianças com até 11 anos. A principal suspeita, diz o coordenador do estudo da Fiocruz, Marcelo Gomes, é de que essa variação esteja ligada a possível aumento nos casos de Sars-Cov-2 (covid-19) ou a eventual retorno do vírus influenza A.
A associação ao coronavírus faz todo o sentido. Afinal, a queda contínua que, desde meados de fevereiro, se observava a cada semana na curva de infecções por covid-19 no país foi interrompida. Na última sexta-feira, por exemplo, a média móvel diária estava em 15.833 casos, contra 13.478 no mesmo dia da semana anterior. Quanto às mortes, o indicador tem girado em torno de 100 casos. Ora fica um pouco acima. Ora, um pouco abaixo. Dois dias atrás, a média móvel foi de 97 óbitos. Sete dias antes, na sexta-feira de 29 de abril, a média tinha sido de 122.
Vale ressaltar que o vaivém nos indicadores de gravidade do coronavírus não se limita ao Brasil. Foi observado primeiramente na Europa. Levou a China a anunciar medidas drásticas em Xangai e Pequim. E, neste momento, atinge também os Estados Unidos, com elevação no número de casos e de mortes. É por essa razão que cientistas da Fiocruz vêm insistido nesse ponto: é fundamental intensificar a vacinação na faixa etária de 5 a 11 anos e ampliar a aplicação de doses de reforço na população adulta.
Em relação ao Brasil, especificamente, os cientistas da Fiocruz associam o aumento nos diagnósticos positivos de SRAG ao fim das restrições ao uso de máscara, o que tornou a população mais vulnerável a vírus em circulação. No estudo, eles recomendam a ampliação da testagem para covid-19 e influenza como forma mais segura de acompanhamento e de combate às doenças no país. "É importante que a rede laboratorial esteja atenta à possibilidade de circulação simultânea desses dois vírus respiratórios, testando para ambos sempre que possível para que possamos ter dados adequados para a caracterização de quais desses vírus estão causando essas internações", sugerem.