A situação na Amazônia está fora de controle. Para qualquer lado que se olhe, do desmatamento à violência contra indígenas, tudo é assustador. O poder público, que deveria manter a ordem na região, praticamente fechou os olhos. O crime organizado se instalou de vez por lá, surrupiando terras e riquezas minerais, derrubando floresta e comandando uma onda de violência sem precedentes. O custo desse descaso será enorme para o país. É preciso que a sociedade se levante urgentemente para tentar conter o desastre ou terá de arcar com todas as consequências.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam para alertas de desmatamentos recordes na Amazônia em abril. Foram derrubados 1.012,5 km² de mata virgem, número nunca visto para o mês. Se comparado ao mesmo período de 2021, quando 580,5 km² de floresta foram destruídas, houve crescimento de 74% nesse crime. É importante ressaltar que o número de abril passado já era recorde. Desde 2019, a devastação passa de 13 mil km² por ano. Chama a atenção ainda nesse filme de horror o fato de abril ser um mês chuvoso, que, em tese, dificulta o desmate na região.
Ou seja, para os criminosos não há mais limites. Eles estão se sentido legitimados pelo comportamento das autoridades, que vêm, sistematicamente, desautorizando as operações de combate ao desmatamento. O valor de multas aplicadas aos que derrubam a floresta são os menores em 20 anos. E apenas 3% dos alertas em tempo real feitos pelo sistema Deter foram investigados. Tudo joga a favor dos fora da lei, inclusive o esvaziamento do Inpe, que teve um diretor demitido, Ricardo Galvão, por fazer seu trabalho, o de alertar para a destruição da Amazônia.
A derrubada da floresta vem acompanhada de um processo de dizimação de comunidades indígenas, que sofrem com todo tipo de violência. Meninas e mulheres estão sendo estupradas e mortas. O caso mais recente que se tornou público envolveu uma adolescente de 12 anos da etnia yanomani, que foi violentada por garimpeiros e morreu. Os mesmos bandidos raptaram uma criança de quatro anos, que caiu de um barco e se afogou. Tribos estão sendo obrigadas a fugir das aldeias, que são queimadas sem qualquer cerimônia.
Os povos originários ainda sofrem com doenças levadas pelos homens brancos. Sucumbem à poluição dos rios e ao fim da pesca e da caça na região. Não por acaso, a desnutrição é uma realidade cruel entre os indígenas. Todo esse absurdo está mais do que documentando, mas órgãos como a Funai, que deveriam dar proteção a essas populações, se omitem. No caso de estupro e morte da adolescente yanomami, a Polícia Federal só abriu investigação depois do clamor popular. O delegado titular responsável pelo inquérito, Daniel Pinheiro Leite, diz que nenhum fato, como o assassinato da menina, foi confirmado. Ele fala em "conflitos de narrativas", mas assegura que está atrás de mais informações.
O Brasil precisa acordar para a realidade da Amazônia sem lei. Não se trata de obra de ficção o que está acontecendo na maior floresta tropical do mundo, com papel fundamental para o equilíbrio ambiental do planeta. A proteção da região deve ser feita sem viés ideológico. É questão de sobrevivência da humanidade. Resumir o que está acontecendo por lá a uma questão política é favorecer os criminosos. Os alertas estão sendo cada vez mais contundentes. O risco de o desmatamento chegar a um ponto de não haver mais retorno é real. A Amazônia pede socorro. Que seu grito seja ouvido o quanto antes.