Editorial

Visão do Correio: A economia pede socorro

O descontrole da inflação, que chega a 12% no acumulado de 12 meses, está impondo um custo altíssimo à população. A situação é tão dramática, que o Banco Central foi obrigado a descumprir a promessa de encerrar ontem o ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic). No comunicado em que anunciou o novo arrocho, com os juros passando de 11,75% para 12,75% ao ano, o nível mais elevado desde janeiro de 2017, o Comitê de Política Monetária (Copom) avisou que o movimento de alta continuará, ainda que em magnitude menor. A perspectiva é de que a Selic chegue a 13,25% anuais.

O BC deixou claro que não restou outra alternativa a não ser pesar a mão sobre os juros. No entender dos diretores da instituição, tudo piorou, tanto no país quanto no mercado internacional. Portanto, ou se promove um aperto ainda maior na taxa Selic, ou a inflação não voltará aos eixos tão cedo. Disse a autoridade monetária, com todo o seu tecnicismo: "A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente".

A autoridade monetária ainda acrescentou: "O ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de covid-19 na China e da guerra na Ucrânia. A reprecificação da política monetária nos países avançados — nos Estados Unidos, os juros subiram 0,5 ponto percentual — eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes (como o Brasil). Em resumo, o Copom reconheceu que o terreno é perigosíssimo e, de novo, quem pagará a conta serão os mais pobres, que não têm como se proteger dos aumentos de preços.

Nada garante, porém, que o Banco Central terá sucesso na sua empreitada, diante da falta de empenho de outras alas do governo, que insistem em jogar contra o controle da inflação, como na área fiscal e na seara política, que se tornou um manancial de crises. Hoje, não se tem previsibilidade no Brasil, o que dificulta a retomada da economia e mantém o desemprego em níveis elevadíssimos. Esse ambiente hostil também dificulta o acesso ao crédito, uma alavanca importantíssima para o consumo e para os investimentos produtivos, e torna mais difícil a situação dos endividados.

Não é só. Juros mais altos agravam a frágil situação do caixa do Tesouro Nacional, que gastou quase R$ 450 bilhões nos últimos 12 meses com a dívida pública. Essa montanha de dinheiro é suficiente para bancar quase cinco anos do Auxílio Emergencial, o programa social que substituiu o Bolsa Família. Ao transferir esses recursos para aqueles que têm patrimônio aplicado em títulos públicos, o governo agrava as desigualdades sociais. Ou seja, inflação é um veneno. Por todos os lados que se olha, as consequências são perversas.

Chama a atenção, no meio desse quadro assustador, o fato de as questões econômicas não estarem no centro do debate dos pré-candidatos à Presidência da República. Para o governo, é um ótimo negócio, pois tira o foco do que realmente é importante, mas, para a sociedade, é um atraso, uma vez que a cobrança por ações concretas pelo controle de preços perde força. Os próximos meses serão cruciais para o BC mostrar que o maior arrocho da história do país desde a edição do regime de metas de inflação, em 1999, dará resultados. Por enquanto, é só frustração. A instituição esperava que o custo de vida começasse a ceder a partir de abril. Agora, na melhor das hipóteses, isso só acontecerá de agosto em diante, véspera das eleições. Tomara que os eleitores não se iludam com esse movimento na hora de depositar os votos nas urnas.

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