MOZART NEVES RAMOS - Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados da USP de Ribeirão Preto, e professor emérito da UFPE
Este o ano o Brasil completa 200 anos de sua Independência. Em 2006, mais precisamente em 6 de setembro, um dia antes da data comemorativa, foi lançado o movimento Todos pela Educação, em frente ao Museu do Ipiranga, em São Paulo. Uma manhã muito fria, que contrastava com o calor humano dos presentes, todos com uma mesma convicção de que a verdadeira independência só viria por meio de uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Por isso foi simbólico lançá-lo no dia 6. Não haveria dia 7 sem dia 6.
O país precisa mais do que nunca de uma agenda positiva para a educação, em decorrência dos grandes deficits de aprendizagens deixados pela pandemia, especialmente como resultado do elevado número de dias com escolas fechadas. Estamos enfrentando dias difíceis na educação. Como dizia o saudoso Ariano Suassuna, não sou otimista, nem pessimista, mas sou um realista esperançoso.
Por causa dessa agenda é que fui buscar aquele 6 de setembro de 2006. Tive o privilégio de ser o primeiro presidente executivo do Movimento Todos pela Educação. Para mobilizar o país, o Movimento lançou cinco metas para uma educação de qualidade, a primeira delas vinculada ao acesso à escola — e o Brasil avançou bastante de lá para cá.Mas ainda temos cerca de 1,4 milhão de crianças de quatro e cinco anos e jovens de 15 a 17 anos sem frequentar a escola.
O foco da segunda meta está na alfabetização das crianças na idade certa — como faz tão bem o estado do Ceará, alfabetizando todas as crianças até os sete anos de idade. Temos uma estrada a percorrer, mas já temos a "bússola cearense da alfabetização".
A terceira meta talvez seja a mais desafiadora, que trata da aprendizagem escolar aferida pelo percentual de alunos com aprendizado adequado em língua portuguesa e em matemática ao final de cada etapa escolar.
O Brasil vinha avançando bastante nos anos iniciais do ensino fundamental, mas aí veio a pandemia e com ela o retrocesso na aprendizagem em todas as etapas escolares. No ensino médio, a situação é mais grave, pois o país, mesmo antes da pandemia,já estava literalmente estagnado e num patamar muito baixo.
Contudo,a implementação do chamado Novo Ensino Médio, que começa formalmente este ano,apresenta-se como um facho de esperança, sem esquecer as Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral (Emti) do estado de Pernambuco, que vêm se mostrando relevantes tanto no campo da aprendizagem como no fluxo escolar.
A quarta meta vincula-se às taxas de aprovação ao final de cada etapa escolar, e nesse ponto o Brasil fez avanços importantes, mas é ainda um país que tem uma cultura elevada de reprovação escolar.
Por fim, a quinta meta trata do financiamento e da gestão dos recursos; quanto ao financiamento, o Brasil deu um salto importante nos últimos 15 anos, mas ainda precisa avançar no bom uso do dinheiro público.
Nessa caminhada, o movimento Todos pela Educação contribuiu de maneira expressiva para os avanços verificados na educação brasileira. E aqui quero fazer uma menção à nossa atual presidente-executiva — Priscila Cruz, uma liderança jovem e comprometida com a causa, que formou um time excepcional.
Quero aqui, em particular, destacar o trabalho de duas outras lideranças jovens do movimento, Olavo Nogueira Filho e Gabriel Corrêa. Esse time está agora percorrendo o Brasil, mobilizando o país com o belo documento Educação Já, construído por muitas mãos de diferentes visões políticas, mas todas engajadas e comprometidas com a causa da educação. Educação Já traz diretrizes importantes para uma política pública de educação de qualidade não só para os candidatos à Presidência da República, mas também para candidatos aos governos estaduais e para o Legislativo, tanto na esfera federal como na estadual.
O documento foi formalmente lançado no último dia 26 de abril, em São Paulo. Que bom que, neste momento difícil da vida brasileira no campo da educação, tenhamos o movimento Todos pela Educação, que nos permite pensar positivamente e com esperança.