Aos poucos, o Brasil vai retornando à normalidade, mas ainda em meio à crise epidemiológica imposta pelo coronavírus. Apesar do Ministério da Saúde ter marcado o fim da emergência sanitária no país para meados deste mês — e de o Distrito Federal e a maioria dos estados e municípios terem flexibilizado a obrigatoriedade do uso de máscaras, tanto em ambientes abertos quanto fechados —, observa-se que uma parcela expressiva da população mantém a proteção facial quando está em certos espaços onde há aglomerações e risco maior de contágio, como supermercados, padarias, farmácias, transporte coletivo. Uma preocupação que faz todo o sentido.
No mais recente boletim do Observatório Covid-19, divulgado na sexta-feira, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz — que em estudo anterior anunciaram que a terceira onda deflagrada pela variante ômicron no país caminhava para o fim — voltaram a apontar a tendência de queda nos três principais indicadores da crise deflagrada pelo coronavírus: casos, internações e mortes. Eles atribuíram a desaceleração na gravidade do flagelo à imunização. E, mais uma vez, alertaram: a pandemia não acabou. Os riscos, enfatizaram, continuam presentes. O novo levantamento abrange o período de 10 a 23 de abril, na comparação com a semana epidemiológica anterior, de 27 de março ao último dia 9.
Quando a avaliação é feita com base nos dados mais recentes da pandemia no país, vemos que os cientistas da Fiocruz estão cobertos de razão ao advertir que não pode haver trégua na luta contra a covid-19 neste momento. No período estudado pelos integrantes do Observatório Covid-19, há um decréscimo de 36% na média de casos diários, que ficou em cerca de 14 mil. E de 43% na de óbitos, que oscilava em torno de 100. Mas informações sobre a média móvel diária da última sexta-feira, na comparação com o mesmo dia da semana anterior, apontam alta em relação ao número de mortes.
Conforme dados disponíveis no painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), 185 pessoas perderam a vida em consequência da infecção por coronavírus na última sexta-feira, elevando a média móvel diária de óbitos para 122. No mesmo dia da semana anterior, quando o país registrou 51 mortes, a média era de 93. Em mais de dois meses, é a primeira vez que a trajetória semanal descendente desse importante indicador de gravidade da pandemia é interrompida.
Como já haviam feito antes, pesquisadores da Fiocruz enfatizaram que é preciso intensificar a imunização de crianças de 5 a 11 anos — que evolui de forma muita lenta no país — e intensificar a aplicação de doses de reforço na população adulta. Alertaram para a desigualdade na cobertura vacinal em determinados estados e municípios, sugeriram medidas e cobraram ações efetivas. Eles defenderam, ainda, a exigência do passaporte vacinal em prédios públicos, transportes coletivos e espaços de trabalho. E recomendaram que a transição para as próximas fases da pandemia venha acompanhada de planejamento de curto, médio e longo prazos.
No boletim, os cientistas também destacaram a tendência geral de redução de casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) em todas as faixas etárias — as infecções por coronavírus corresponderam a 35% dos registros. E enfatizaram, também, a importância da vacinação nacional contra a influenza, ofertada nos postos de saúde. No país, começou em 4 de abril a primeira etapa da campanha de aplicação do imunizante, voltada para pessoas de 60 anos ou mais e para trabalhadores da saúde. A segunda fase se inicia nesta semana e prevê o atendimento, entre outros, a professores, gestantes, crianças entre 6 meses e 5 anos, indígenas e população privada de liberdade.