QAIS SHQAIR — Embaixador da Liga dos Estados Árabes no Brasil
Qual é a relevância dos últimos acontecimentos na Cidade Santa de Jerusalém, seus arredores e a Mesquita Sagrada de Al-Aqsa? Será que os palestinos entram em conflito com as forças armadas israelenses como a mídia ocidental defende? Atingir os fiéis enquanto rezam em sua mesquita ou assassinar Shereen Abu-Aqle, jornalista do canal Al-Jazeera, é um mero confronto com as forças armadas?
Como podemos imaginar as forças policiais e do exército israelense atacando o funeral da jornalista assassinada? O que realmente está acontecendo na Cidade da Paz? O que faz um jovem palestino, com menos de 20 anos, sem formação política ou militar, ou experiência política passada, atacar israelenses presentes em todos os lugares ao seu redor, sufocando-o, sua família e seus companheiros de aldeia?
Quando a violência vai parar? E como? Isso é possível? Ou ainda está inacessível? Até que ponto é possível uma solução para o conflito na Palestina em comparação com outras disputas em outras partes do mundo? Todo palestino naturalmente levanta a mão, fazendo uma pergunta: por que a comunidade internacional é tolerante com uma crise e age decisivamente com outra? Como é que a ocupação da terra alheia é permitida em um caso e rejeitada em outro?
Para responder a essas perguntas, deve-se olhar para a causa raiz do conflito palestino, isto é, "ocupação", a mais longa da história recente. Os palestinos são uma exceção em sua luta contra a ocupação? Exemplos de nações que lutam contra a ocupação existem em todo o mundo. Devemos nos referir ao direito internacional para enfatizar essa legitimidade?
É a vontade que nos falta, desde pessoas, Estados e governos até mídia e academia. Falta-nos a vontade de pôr fim ao círculo vicioso de derramamento de sangue que ainda está acontecendo há décadas. Se todos concordamos em rejeitar a ocupação, então por que testemunhamos — diariamente — eventos sangrentos nos locais sagrados de Jerusalém? Por que parecemos indiferentes? É suficiente expressar nossa preocupação, nosso profundo pesar pelas vítimas de ambos os lados da crise eterna?
A única e última razão de luta na região é a ocupação, enquanto a única saída é acabar com essa ocupação. A Mesquita de Al-Aqsa é um santuário ocupado, exclusivamente muçulmano (Waqf islâmico). Jerusalém Oriental e os territórios palestinos na Cisjordânia estão todos ocupados, ocupação esta reconhecida pela lei internacional.
Já é hora de envidarmos os maiores esforços diplomáticos para convencer Israel de que o fim da ocupação é para seu bem, do jeito que é bom para os palestinos e para a comunidade internacional. A falta de pressão adequada sobre Israel deu-lhe um mandato ilegal para recorrer a balas, em vez de pensamentos e ideias para trazer paz e prosperidade à região.
Lamentavelmente, o que está no terreno é uma política israelense unilateral continuada visando o status legal e histórico da Mesquita de Al-Aqsa, em uma tentativa de impor a divisão temporal e espacial, o que constitui uma violação flagrante ao direito internacional e às responsabilidades legais de Israel como a potência ocupante.
Uma nova versão da literatura política deve prevalecer no fluxo aberto de informações, na troca rápida de notícias, visões e ideias por meio das mídias sociais e da internet. O afluxo de informações tem garantido às mídias sociais um papel igual ao que a mass media desempenha não apenas na formação, mas também na direção da opinião pública.
Certos lobbies da mídia não são mais capazes de defender uma parte da notícia. Assim, o verdadeiro contexto do conflito, a outra parte da história baseada em um apelo persistente para acabar com a ocupação israelense dos territórios palestinos deve receber um impulso. A outra versão da história deveria chamar Israel a respeitar a lei internacional.
O direito internacional deve ser a referência, não as crenças ideológicas. Autoridades de alto escalão da região alertaram recentemente contra um conflito religioso sobre os locais sagrados de Jerusalém. O status quo dos locais islâmicos e cristãos na cidade sagrada de Jerusalém, que é concedido histórica e legalmente, ao Reino Hachemita da Jordânia, deve ser preservado e respeitado por Israel.
É de fato a tarefa de todos, Estados, bem como a mídia e as opiniões públicas para pressionar pelo relançamento de um processo de paz negociado entre palestinos e israelenses. Chegou a hora de dar baixa no capítulo da última e mais longa ocupação existente na história recente.
A irrelevância no conflito palestino é tolerar com a ocupação israelense da terra, suas atrocidades contra os cidadãos palestinos, seu desafio ao direito internacional e a rejeição à legitimidade.
O que é finalmente relevante é que todos respeitem a legitimidade da ONU, reforçando esta legitimidade através da implementação das resoluções relacionadas com a ONU que apelam ao fim da ocupação e estabelecem as bases para um Médio Oriente estável e seguro, com base na solução estatal, instituição de dois Estados independentes, com a retirada israelense das fronteiras anteriores a 5 de junho de 1967 e com Jerusalém Oriental como capital da Palestina, o Estado vizinho de Israel, o único parceiro capaz e passível de paz para Israel e para todos os países da região e de todo o mundo.
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