Na semana em que os Estados Unidos atingiram a marca de 1 milhão de mortes causadas pela covid-19, uma nova doença intriga a medicina e começa a surgir em vários países. Trata-se de uma hepatite aguda ainda sem causa conhecida e que ataca, principalmente, crianças e adolescentes.
A Organização Mundial da Saúde revelou que já foram notificados 348 casos suspeitos da doença em 20 países, como Espanha, Israel, Estados Unidos, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Itália, Noruega, França, Romênia, Bélgica e Argentina. Só no Reino Unido foram 160 registros até agora. Os primeiros casos informados à OMS foram na Escócia, no dia 5 de abril, em 10 crianças menores de 10 anos.
No Brasil, 28 pacientes estão sendo monitorados pelo Ministério da Saúde em sete estados — São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina e Pernambuco. Não foi detectada relação com viagens ao exterior, como ocorreu com a covid-19. Os principais temores das autoridades de saúde são em relação à agressividade da doença e ao fato de as causas serem desconhecidas.
Segundo informe do Instituto Butantan, "a doença não tem relação direta com os vírus conhecidos da hepatite, e 10% dos casos exigiu transplante de fígado". A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), representante da OMS na Américas e no Caribe, descreveu os quadros em investigação como "hepatite aguda (inflamação do fígado de forma abrupta) com enzimas hepáticas acentuadamente elevadas".
Philippa Easterbrook, cientista do programa mundial da OMS sobre a hepatite, disse que ocorreram alguns avanços importantes nas pesquisas: "Atualmente, as principais hipóteses são as que envolvem o adenovírus, e também continua sendo importante o papel da covid". Informações da Opas divulgadas pelo Butantan revelam que "o adenovírus foi detectado em pelo menos 74 casos; em 18, testes moleculares identificaram a presença do adenovírus F tipo 41 e, em 20, o SARS-CoV-2. Além disso, em 19 houve uma coinfecção por SARS-CoV-2 e adenovírus". É importante ressaltar que os vírus comuns que causam hepatite viral aguda (vírus da hepatite A, B, C, D e E) não foram detectados em nenhum desses casos.
Tão logo as notícias sobre as infecções começaram a surgir, informações falsas circularam ligando a doença à vacina contra a covid-19, em mais uma mostra explícita de negacionismo e tentativa de corroborar fake news que, inclusive, levaram muitos pais a não vacinarem seus filhos, principalmente no Brasil, contra o coronavírus. Só que boa parte das crianças afetadas por essa doença misteriosa não foi imunizadas contra a covid-19 por causa da idade, o que rechaça tal hipótese.
Mais uma vez, a população mundial conta com a ciência para descobrir as causas de uma enfermidade que vem assustando pela agressividade e por afetar, principalmente, crianças. Só com pesquisas sérias será possível detectar formas de impedir a infecção. Enquanto isso, cabe aos pais vacinarem seus filhos contra a hepatite A e B e contra todas as outras doenças possíveis, inclusive a covid.
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