O Brasil tem sido pródigo em criar crises. E, infelizmente, elas vêm sendo cada vez mais recorrentes, agravando um quadro econômico que aflige, sobretudo, a população mais pobre. No mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou a maior inflação para meses de abril em 26 anos, de 1,06%, o governo surpreendeu a todos com a demissão do almirante Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia. Reforçou-se a visão de que, enquanto não conseguir intervir na Petrobras, o Palácio do Planalto não sossegará. E, pior, surgiu a percepção de que a cabeça do ministro foi entregue ao Centrão, que defende a destinação de R$ 100 bilhões dos cofres públicos para um empreendimento de gasodutos que interessa a um único empresário, Carlos Suarez, um dos ex-donos da construtora OAS, pega na Lava-Jato.
Num momento tão complicado pelo qual o país vem passando, em que o poder de compra está solapado pela inflação de 12,13% no acumulado de 12 meses, o mais adequado seria que o governo se empenhasse em apresentar medidas concretas para redução dos preços. Até o fez, ontem, por meio da redução do imposto de importação de 11 itens importantes para a indústria e para os consumidores. Contudo, essa medida passou praticamente despercebida do grande público, porque o Planalto insiste no desejo de intervenção na Petrobras para tentar controlar os preços dos combustíveis. E todos sabem que foi mais um jogo de cena para o eleitorado do que uma medida com resultados concretos. Os valores da gasolina e do diesel continuarão acompanhando as cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional.
A Petrobras já está no terceiro presidente no governo de Jair Bolsonaro e continua seguindo seus interesses como empresa. Na segunda-feira, anunciou reajuste de quase 9% no preço do diesel, o que provocou mais desgastes nas relações entre o presidente da República e os caminhoneiros, base importante de seu apoio. Para tentar se descolar desse reajuste, Bolsonaro demitiu, desta vez, o ministro ao qual a Petrobras está vinculada. Melhor seria se o governo se concentrasse em encontrar soluções concretas para amenizar o problema dos combustíveis. Há caminhos possíveis para isso, não a transformação da estatal numa réplica da petroleira venezuelana, usada politicamente por Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
Enquanto o governo insistir nessa direção de turbulências, nada do que realmente precisa ser feito sairá do papel. O resultado, todos sabem: mais inflação, desemprego maior, juros nas alturas, crescimento pífio e enorme desconfiança entre os investidores. Hoje, são poucos os empresários que se arriscam a tirar projetos da gaveta para ampliar seus negócios, pois a turbulência é enorme. Não existe a palavra fundamental para o setor produtivo: previsibilidade. Com isso, perdem todos. E o país vai descendo a ladeira, agravando as desigualdades sociais, das quais se origina a violência.
Machucado, o Brasil implora por dias melhores, por um governo que se empenhe em resolver os graves problemas que atormentam a população. Crises não podem ser naturalizadas, como se vê atualmente no país. Somente a pacificação política será capaz de abrir as portas para a retomada do crescimento econômico e do controle da inflação. A forte alta dos juros, que estão em 12,75% ao ano, podem fazer uma parte do serviço de pôr a carestia nos eixos. Porém, o avanço da produção e do consumo a longo prazo necessita de um ambiente de tranquilidade e credibilidade. Não é o que se tem hoje por aqui. Muito pelo contrário.
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