DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR - Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro titular da Academia Brasileira de Pediatria, ex-presidente do Global Pediatric Education Consortium (GPEC)
A Universidade de Brasília completou 60 anos no dia 21 de abril de 2022. É uma instituição brasileira de ensino superior que merece realce, não apenas pela beleza de seu Câmpus Darcy Ribeiro, mas, principalmente, pela construção do seu elevado padrão de ensino e pesquisa comprometido com a nobre causa da educação universitária e humanista.
A UnB teve de superar desafios para chegar aonde chegou. O mais grave foi durante a ditadura militar, que colocou em risco a sua sobrevivência. Invasões militares visavam debilitar o modelo inovador de uma universidade. Foram excluídos do seu corpo docente 16 professores de alto nível. Além disso, diante de um cenário tão ameaçador, 233 outros decidiram retirar-se da universidade. Contudo, a energia de docentes e discentes articulou a sagrada resistência em favor da causa que se mantinha iluminada no horizonte de suas unificadas visões.
Vale ressaltar alguns nomes cuja experiência foi alicerce que deu fundamento ao projeto universitário da nova capital do Brasil, em etapas decisivas de sua história. Os dois primeiros reitores foram: 1) Professor Darcy Ribeiro, eminente intelectual que havia trabalhado na formulação do referido projeto. Publicou relevante obra intitulada Universidade necessária. Desenvolveu, assim, a teoria de que o modelo de uma instituição universitária há de ser concebido com o objetivo de trabalhar sempre pela evolução construtiva da sociedade, a partir de contextos educacionais que valorizem as ciências humanas, pesquisa científica e interação abrangente com a comunidade. É visto como pilar das transformações evolutivas e igualitárias; 2) Professor Anisio Teixeira, célebre pensador na área da educação, que contribuiu com o Darcy Ribeiro na formulação do projeto da UnB. Foi afastado do cargo pelo regime militar; 3) Após essa longa crise, assumiu a reitoria o brilhante professor Cristovam Buarque, peça-chave para a superação do clima ditatorial invasor da UnB e reanimação da comunidade universitária.
Ao longo de seu funcionamento, a UnB realizou avanços que comprovam o compromisso com o modelo de uma universidade necessária. São projetos baseados no referido modelo, em defesa da igualdade de direitos. Foi assim implantada a criação de cotas raciais para o ingresso de estudantes na graduação e também na pós-graduação, incluindo negros, indígenas e quilombolas. O sucesso de tão justa providência precisa ser divulgado e comemorado a fim de que a sociedade seja estimulada a lutar pela educação gualitária no Brasil desde a primeira infância até o nível universitário.
Outra medida é a implantação de câmpus universitário da UnB em cidades satélites, entre as quais Planaltina, Gama e Ceilândia. Trata-se de louvável providência que assegura às novas gerações amplo acesso à educação de nível superior, com alta qualidade.
A primeira mulher a exercer o cargo de reitora da UnB é a professora Márcia Abrahão, da área de geologia. Foi reeleita, em 2019, para o segundo mandato que exerce. Enfrentou a crise cruel e duradoura da pandemia da covid-19, com mudanças no cotidiano da universidade que desativaram práticas tradicionais de ensino e pesquisa. Tudo passou a ser remoto, não presencial.
Porém, a reitora manteve a blindagem dos princípios e conquistas da UnB, para que não houvesse perda dos avanços implantados. Além do mais, três legados que a professora Márcia vai nos deixar são: 1) Conclusão da obra da Unidade da Criança e Adolescente (UCA). Trata-se de projeto da Pediatria da UnB, destinado à assistência à saúde dessa faixa etária. Sua construção encontra-se inacabada. A nossa reitora articulou a retomada da obra. O resultado foi positivo. A obra já está reiniciada e a previsão é que seja concluída no primeiro semestre de 2023; 2) Criação da Comissão da UnB sobre a primeira infância. Mais uma genial iniciativa que coloca a nossa universidade na vanguarda; 3) Construção de uma creche de qualidade no Câmpus Darcy Ribeiro, destinada a 200 crianças.
Finalmente, é a alma de Juscelino Kubitschek que dá vida a Brasília como capital da esperança, reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Deveria, pois, ser criado o Prêmio JK, a ser conferido a instituições que endossam sua maravilhosa reflexão: "Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará no cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e confiança sem limites no seu grande destino".
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