AGRICULTURA

Artigo — Agregação de valor: é preciso conquistar o consumidor

Correio Braziliense
postado em 09/05/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomes)
(crédito: Caio Gomes)

Por JOÃO FLÁVIO VELOSO - Chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios

NADIR RODRIGUES - Jornalista da Embrapa Alimentos e Territórios

O Brasil tem riquíssima cultura alimentar. De norte a sul do país, a diversidade dos produtos agroalimentares é imensa. Nossas raízes indígenas, heranças portuguesas e africanas, além da influência de outros povos europeus e asiáticos, proporcionaram uma variedade de alimentos e modos de fazer únicos. Esse patrimônio alimentar, construído por diversas mãos, é um importante ativo que o Brasil possui, que pode e deve valorizar.

Agregar valor aos produtos alimentares é uma estratégia para diferenciar e atingir nichos de mercado especializados. Entretanto, essa valorização não depende somente do produtor do alimento. Ele está envolvido, mas o principal fator é o reconhecimento e a percepção de valor pelo consumidor. Sem o reconhecimento pelo consumidor de que um produto tem certa diferenciação e reputação associadas a uma qualidade, não é possível agregar valor. Por isso, os agricultores e produtores de alimentos que querem levar ao mercado produtos diferenciados também precisam trabalhar para comunicar  essa qualidade ao mercado. E é preciso permanente atenção aos atributos mais desejados pelos consumidores.

Primeiro, é preciso entender quais são as tendências que os consumidores buscam nos produtos alimentares. Preço, confiabilidade, sabor, praticidade, sustentabilidade.... são variados os atributos observados pelos consumidores de alimentos. Para um grupo de consumidores, conveniência e praticidade são fundamentais. A facilidade de preparo, pequenas porções, novas embalagens, disponibilidade para compras pela internet e por redes sociais cada vez mais influenciam a decisão de compra.

Sensorialidade e prazer são fatores decisivos para outro grupo de consumidores. E essas sensações podem ter ligação com a nossa história e território de origem (identidade), ou mesmo com a busca por novos sabores e experiências gustativas.

Os produtos alimentares tradicionais e artesanais abrem oportunidades para o mercado de turismo gastronômico. E nisso o Brasil é ímpar. Nossos territórios possuem uma rica sociobiodiversidade que está expressa em diferentes tipos de alimentos e preparações culinárias.

Confiança e qualidade são atributos muito lembrados pelos consumidores e estão relacionados a boas práticas de produção ou de fabricação, selos de qualidade e origem, rastreabilidade da produção animal e vegetal.

E não se pode falar em alimentação atualmente sem pensar em saúde e bem- estar. Cresce a busca por uma alimentação saudável, e a procura por alimentos funcionais e nutracêuticos.

Sustentabilidade e ética também precisam fazer parte do cardápio. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e buscam por alimentos produzidos de forma justa. Bem-estar animal, alimentos orgânicos ou produzidos com práticas agroecológicas, respeito e inclusão das comunidades envolvidas são fatores que crescem na importância para os consumidores. As boas práticas ambientais, sociais e de governança estão presentes no conceito ESG (do inglês Environmental, Social and Governance), e que hoje pauta a percepção do mercado financeiro e dos novos consumidores.

Mais do que comer, o consumidor da atualidade é bem informado e quer vivenciar experiências gastronômicas. Mais do que sabor, quer escolher alimentos com características nutricionais específicas. E não basta ser saudável; é importante que a produção seja sustentável, com menor impacto ambiental e socialmente justa. Portanto, apenas buscar agregar valor não é garantia de sucesso. É importante estar atento às preferências e tendências alimentares dos consumidores. Sem que o consumidor reconheça e valorize o produto como um diferencial, nenhuma estratégia para agregação de valor será bem-sucedida. O consumidor cidadão precisa ser conquistado.

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