Luís Faro Ramos - Embaixador de Portugal no Brasil
Um ano atrás, escrevi neste espaço que "melhores ocasiões teríamos no futuro para celebrar condignamente (…) o dia da Língua de José Saramago, Fernando Pessoa, Lídia Jorge, Mia Couto, Nélida Piñon ou Clarice Lispector". Pois bem. Aqui estamos hoje, a celebrar condignamente esta língua pujante, vibrante, com tantas matizes e belezas espalhadas pelos cinco continentes, cantadas e faladas de forma tão diferente e tão próxima.
O 5 de Maio é comemorado, desde 2009, como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em 2019, a Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco) decidiu reconhecer que o português é muito maior do que a geografia dos países que o têm como língua oficial.
Nunca é demais homenagear, em 5 de maio, todas e todos quantos trabalharam para que esse reconhecimento fosse uma realidade. A Unesco e a CPLP são dois verdadeiros pilares de Língua e Cultura, onde o português tem o seu berço e de onde se projeta para o mundo. Com o reconhecimento vem também maior responsabilidade, na internacionalização da Língua e no esforço comum que é necessário para que a aprendizagem se universalize, dentro e fora dos países da CPLP.
Mas essa hora é a do regresso às celebrações. Em 2022, o regresso é em grande estilo! Por uma porta, onde cabem as comemorações do centenário do nascimento de José Saramago, até hoje o único escritor de língua portuguesa que foi prestigiado pelo título maior da literatura mundial, o Nobel. E onde cabem também as comemorações do bicentenário da independência do Brasil, em que um dos pontos altos, no que diz respeito a Portugal, é a participação enquanto país convidado de honra na 26ª edição da Bienal do Livro de São Paulo.
Escritores de diferentes gerações, de Portugal e de outros países de Língua Portuguesa, que nos maravilham com a sua escrita em prosa ou poesia e todos os dias reinventam esta língua global e pluricêntrica, vão partilhar conosco presencialmente, por uns dias, em julho próximo, palavras e emoções. De Valter Hugo Mãe a Lídia Jorge, de Paulina Chiziane a Dulce Maria Cardoso, de Kalaf Epalanga a José Luis Peixoto, serão 23 os autores presentes na Bienal.
Mas este ano tem mais, tem muito mais. E é impossível falar da celebração da língua portuguesa sem lembrar José Saramago. Hoje mesmo, aqui em Brasília, será inaugurada uma exposição do coletivo de artistas portugueses Borderlovers, comemorativa do centenário do nascimento de José Saramago, intitulada A bagagem do viajante. O acontecimento terá lugar nas estações do metrô brasiliense, onde assistiremos à leitura do livro infantil de Saramago A maior flor do mundo por jovens estudantes de Brasília. Também hoje, teremos o privilégio de conversar com Pilar del Río, que preserva de forma brilhante o legado de Saramago, e Carlos Reis, comissário das comemorações do Centenário. E antes de o dia terminar teremos um show do grupo de Choro "Reco do Bandolim e Choro Livre", que tão bem representa uma forma de música tipicamente brasileira mas ao mesmo tempo bebe influências de outras geografias em português.
As homenagens a Saramago continuarão amanhã, em Curitiba, onde será inaugurada a oitava Cátedra Camões no Brasil, cujo patrono é o Nobel português, na Universidade Federal do Paraná. É a primeira Cátedra Camões no sul do Brasil, e é mais um passo da maior importância no caminho das parcerias estabelecidas pela Instituição que divulga a Cultura e a Língua portuguesas pelo mundo com importantes Instituições de ensino superior neste país.
No dia 7, em São Paulo, o belíssimo Museu da Língua Portuguesa organizará vários eventos comemorativos do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que contarão também com a participação de Pilar del Río e Carlos Reis. Este ano poderemos assim, finalmente, no Brasil e tantos outros países, prestigiar a nossa língua comum no Dia Mundial que para ela foi criado.
Angolanos, Brasileiros, Cabo-Verdianos, Guineenses, Moçambicanos, Portugueses, São-Tomenses e Timorenses, celebremos todos a Língua que nos une e que, mesmo em tempos de pandemia, nunca esteve confinada e continua a crescer e a vibrar ao som do samba, do choro, do fado, da morna, do kuduro, do semba, da marrabenta , do socopé ou do tebe!
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