EDUCAÇÃO

Artigo: Inovação aberta na educação pública

Correio Braziliense
postado em 02/05/2022 06:00

GABRIELA BONOTTI - Sócia-diretora do Quintessa

Para falar sobre educação no Brasil, precisamos entender e enxergar o grande abismo existente na formação escolar, principalmente quando falamos do ensino nas escolas públicas. Um estudo da Todos pela Educação mostra que 40% das crianças brasileiras de 6 a 7 anos não sabiam ler ou escrever em 2021. A pandemia agravou ainda mais esse cenário: com o fechamento das escolas, aulas on-line e outros fatores sociais — os jovens precisando trabalhar para complementar a renda das famílias por conta da alta do desemprego — o risco de abandono escolar triplicou e o índice de aprendizado caiu 72,2%, segundo estudo realizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) na rede estadual de ensino de São Paulo. Esses dados refletem a realidade do estado com maior índice de desenvolvimento econômico do país. Quando falamos de outras regiões, um estudo da Unicef mostra que 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação em 2020. Desse número, 69% são pretas e indígenas, e 46% vivem no Norte e Nordeste.

Diante de um problema tão complexo, como podemos implementar soluções que consigam sanar os abismos sociais e, ao mesmo tempo, sejam escaláveis e eficientes? Com o Marco Legal das Startups, sancionado em junho do ano passado, o país deu um salto gigantesco nas possibilidades de implementar inovação aberta no setor público para solucionar questões sociais e ambientais, como é o caso da educação.

As Edtechs representam o maior segmento de startups no Brasil, com mais de 500 empresas, segundo a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Grande parte delas possuem soluções prontas para apoiar na redução das defasagens de aprendizagem e no avanço do ensino público brasileiro. Foi a partir dos desafios da educação e das possibilidades abertas com o Marco Legal, que o Quintessa, ao lado de parceiros como Fundação Lemann, Imaginable Futures, BID Lab e Instituto Reúna, deu vida ao programa Impulsionar. O objetivo é conectar edtechs diretamente às escolas públicas, preparando os professores para receberem as tecnologias e respaldados por um modelo pedagógico que orienta todas as ações.

As secretarias de educação em Bonito (PE), Cabrobó (PE), Domingos Mourão (PI), Guaramiranga (CE), Igarassu (PE), Santa Maria (RS) e Volta Redonda (RJ) foram selecionadas para o projeto que marcou o primeiro caso de uso do Marco Legal das startups na educação. Por meio de editais públicos, foram selecionadas quatro edtechs que, nos próximos 8 meses, atuarão com as secretarias dessas cidades visando resolver desafios de gestão, avaliação e de defasagem em língua portuguesa e matemática de estudantes do ensino fundamental. Cada uma delas receberá R$100 mil para implementar pilotos das soluções nas escolas e receberão apoio estratégico e operacional.

O programa foca na dor de entrar, implementar e escalar soluções educacionais dentro do setor público. A estimativa é que 10 mil alunos e 245 professores de português e matemática sejam impactados pelo programa neste primeiro piloto, que, se der certo, além de se perenizar nessas sete redes municipais, se tornam vitrines e referências para outras redes municipais. Em um momento em que a agenda ESG se tornou pauta essencial para a recuperação do país no cenário pós-pandemia, o tripé educação, inovação e setor público pode ser um alicerce firme para mudanças positivas e ágeis perante desafios complexos.

Se o país continuar evoluindo em iniciativas como o Marco Legal das Startups, que promovem inovação aberta e conexão com as lideranças políticas, poderemos ter uma transformação positiva em escala e começaremos a ver, finalmente, mudanças significativas nos indicadores sociais dos nossos velhos desafios, como o da educação.

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