Os trabalhadores têm pouco a comemorar neste 1º de maio, Dia do Trabalho, que será celebrado em todo o mundo amanhã. Apesar da recuperação após o fim das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, o mercado está muito longe de absorver as 11,9 milhões de pessoas que estão à procura de emprego. Sem um crescimento mais forte da economia, a perspectiva é de que a taxa de desemprego continue acima de dois dígitos pelo menos até o fim do ano. O Brasil está entre as 10 nações com maior nível de desocupação do planeta.
Tanto os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede, inclusive, a informalidade da mão de obra, quanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam desaceleração na retomada do mercado de trabalho. Pelos cálculos do IBGE, o desemprego, que vinha cedendo mês a mês, estabilizou-se em 11,1% no trimestre terminado em março. A renda média dos trabalhadores apontou alta de 1,5% ante os dados de dezembro, mas acumula perda de 8,7% em um ano. Mais: o total de brasileiros na informalidade (38,2 milhões) continua acima daqueles que têm carteira assinada (34,9 milhões). E quase 33 milhões dizem não receber o suficiente para bancar despesas básicas.
No Caged, ainda que o saldo de empregos formais seja positivo, o encolhimento nas vagas ocupadas é visível. Em março, foram 136 mil contratações a mais do que demissões, 11% menos do que no mesmo período de 2021. Em janeiro, a queda havia sido de 38% e, em fevereiro, de 17%. O registro, controlado pelo governo, aponta também retração real de 7,2% no rendimento médio dos trabalhadores que conseguiram se recolocar no mercado. A percepção de especialistas é de que os postos que estão sendo abertos são de baixa qualidade. Outro dado importante é que a construção civil, grande empregadora, fechou, sozinha, mais de 200 mil vagas no mês passado — saldo líquido, depois das contratações.
Se os números atuais, no geral, dão um certo alívio, olhando para frente a preocupação é grande. Espera-se um período de forte turbulência na economia ao menos até outubro, por conta das eleições presidenciais. Empresários e investidores estão muito cautelosos com a forte polarização do país e as ameaças à democracia. Nesse ambiente hostil, são poucos os que se arriscam a ampliar os negócios. Sem investimentos produtivos, não há como se falar em crescimento mais forte da economia. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano variam entre 0,5% e 1%.
As disputas eleitorais, no entanto, são apenas um dos itens que alimentam o caldeirão de incertezas que tanto mal faz ao país. A inflação não dá trégua — está em 12% em 12 meses —, a taxa básica de juros (Selic) subirá de 11,75% para 12,75% na próxima semana e o mundo, que poderia compensar o estresse doméstico, está numa enrascada, com a guerra na Ucrânia e a covid obrigando a China a fechar várias cidades para tentar conter o surto da doença. Ou seja, é de muito bom tom que o Brasil entre nos eixos para que os milhões de desempregados e aqueles que vivem em insegurança alimentar possam ter um mínimo de esperança. Eleições são sempre uma oportunidade de renovação. Que venha a serenidade, a credibilidade, a previsibilidade e, sobretudo, o crescimento econômico robusto, do qual o Brasil não sente o sabor há mais de uma década.