ALDO PAVIANI - Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília
Os núcleos urbanos, em especial as metrópoles, têm estruturas complexas e assentos populacionais dispersos no território e se movem para amadurecer em estruturas urbanas modernas. Nesses casos, a mobilidade urbana se complica e exige dos administradores soluções de curto e médio prazos para mitigar as consequências do espaçamento urbano e a destruição do mundo natural precedente. Havendo diluição territorial dos núcleos urbanos, cada vez mais, o verde é destruído e o aquífero se deteriora pela poluição gerada. Os homens não protegem a natureza e ainda destroem o verde.
A evolução levou ao espraiamento do tecido urbano, que afetou a mobilidade dos trabalhadores e dos que buscam serviços. Isso leva à perda de tempo nos deslocamentos e à elevação dos custos nas viagens diárias em razão das distâncias a vencer. É o que foi acontecendo nos 62 anos da capital federal. Isso se tornou irreversível, pois se consolidou. A capital pensada para ser uma em seu Plano Piloto, evoluiu. É hoje multipolar, portanto, uma cidade polinucleada, multifacetada. Segundo o IBGE, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, as três maiores metrópoles brasileiras, apresentam as características básicas para tornar complexos os deslocamentos diários: essas cidades estão compostas por diversos núcleos espalhados no respectivo território; possuem avantajada composição populacional; e grande centralização dos serviços prestados a seus habitantes. Os equipamentos urbanos centralizados exigem deslocamentos cotidianos de larga proporção dos respectivos trabalhadores.
Por isso, a mobilidade em direção ao centro é sempre congestionada nas primeiras horas da manhã, em sentido centrípeto e centrífugo ao fim da tarde. A mobilidade é lenta por ser congestionada pois não há opção de viagens transversas, isto é, entre os núcleos periféricos, o que, por certo, aliviaria o tráfego em direção ao centro metropolitano. Esse é o padrão e não há como fugir dele e, pior, está assim consolidado.
Uma solução que se aventa é implantar um sistema misto rodoferroviário em que as pessoas possam ir até o terminal ferroviário, deixar o automóvel e embarcar no trem rumo ao trabalho como acontece em alguns países que, desde o início do século passado, ofereceram o trem como meio de deslocamento. Isso retirou de circulação automóveis e facilitou a chegada ao trabalho com menor cansaço e estresse do que onde não se tomou medida idêntica. Há outro atrativo que é o menor dispêndio de combustíveis, quando ele aumenta de preço por ser importado — refinado ou não.
Aliás, em menos de duas décadas, os combustíveis haverão de ser escassos pela exaustão das fontes. Nesses casos, algumas indústrias automobilísticas rumam para a solução dos veículos híbridos ou totalmente elétricos. Por enquanto, essa última solução esbarra na falta de pontos de abastecimento de eletricidade, na demora da recarga de baterias dos automóveis ou na fila para reabastecimento.
Como a engenharia humana não demora para solucionar problemas técnicos, não demorará ter essa dificuldade também resolvida. Alguns dirão que haverá sobrecarga na produção de eletricidade e, de fato, isso poderá ocorrer inicialmente, sobretudo em países em que a eletricidade é gerada em usinas térmicas. Também haverá o recurso à construção de barragens e de usinas hidroelétricas, como no caso brasileiro, o que indica que para tudo se busca resolver problemas emergentes.
Outra opção será ampliar a trama ferroviária para dar opção aos que desejam deixar seu veículo em casa. Todavia, não temos tradição de uso do trem urbano. Com isso, e em pleno século 21, não há prefeito ou administrador que queira implantar trens urbanos, por ser caro e de demorada construção. Impera o imediatismo para resolver a questão da mobilidade urbana em nosso país. O resultado é que cada vez há mais automóveis nas vias urbanas, mostrando enormes congestionamentos nas principais vias.
Há movimentos nas redes sociais e se usa a internet para garantir a mobilidade ativa e maior uso da bicicleta. Mas, há um sério problema da falta de segurança, pois a maioria das avenidas é de alta velocidade e, este ano, houve ciclistas mortos enquanto rumavam para o trabalho ou se exercitavam. Por isso, se propugna que haja maior consciência dos automobilistas para que respeitem a distância regulamentar dos que pedalam.
Outra solução para a mobilidade urbana é adotar medidas descentralizadoras dos serviços e atividades urbanas. Se cada trabalhador exercer seu ofício na cidade em que mora, poderá ir de bicicleta ou mesmo a pé para o trabalho diário. A descentralização será o rumo inevitável para uma cidade mais amadurecida urbanisticamente falando.