O formigueiro

Quem observa toda a cena da política nacional hoje, pairando no alto da paisagem como se fosse um pássaro, pode, de maneira mais clara e racional, entender o que ocorre tanto nos bastidores quanto à luz do dia com a intensa movimentação de candidatos e partidos rumo às eleições de outubro deste ano.

O atribulado formigueiro de políticos que vêm e vão em busca de parcerias, alianças, federações e mesmo de apoios até onde ninguém jamais poderia imaginar, evidencia, na grande maioria dos casos, que chegam, de fato, à estação dos acasalamentos de ocasião. O ser humano é o único habitante do reino animal que se move apenas por conveniência, sendo todos os seus movimentos orientados por um racionalismo instintivo que busca muito mais do que a própria sobrevivência.

O que o faz se mover em determinadas direções é a busca pela satisfação de seus desejos íntimos. No caso aqui, o desejo que faz toda essa dança tresloucada do formigueiro dos políticos é a ambição pelo poder. Não um poder qualquer, capaz de satisfazer desejos momentâneos, como é comum a muitos indivíduos, mas o poder de se tornar o controlador daquilo que o formigueiro mais necessita, que é o seu suprimento básico. No caso aqui, os recursos da União.

Esse é, do ponto de vista de quem paira sobre toda essa agitação, o leitmotif dessa dança frenética, faltando seis meses para as eleições. Pensar que todo esse bailado e suas pantomimas cessariam de imediato, retirando essa espécie de açúcar que tanto atrai as formigas. Ou mesmo, lançando sobre elas o inseticida da sensatez, na forma do fechamento das porteiras do Estado à sanha sedenta das formigas. Em outras palavras, toda essa agitação seria encerrada de imediato, retirando dessa dança patrimonialista, o acesso aos cofres públicos.

Sem o dinheiro dos pagadores de impostos, só restariam desse formigueiro alguns espécimes vagando de um canto ao outro, desorientados, sem saberem para onde ir ou o que fazer. Antigamente, era dita, de modo furtivo e premonitório, a sentença: "Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil". O curioso é observar que a manutenção e a preservação dessas saúvas são feita justamente pelas formigas operárias, que operam, em grande número, para manter todo esse sistema imutável. Por outro lado, observa-se também que, para a manutenção do status quo vigente, há uma infestação da máquina do Estado por formigas mais resistentes. Instalados no alto dos Três Poderes, longe dos inseticidas da ética pública, estariam as saúvas rainhas, responsáveis pela sobrevivência do restante do formigueiro.

Nos intrincados corredores do Estado, um verdadeiro labirinto de infindáveis túneis e bunkers, as rainhas estão protegidas, assegurando a continuidade da espécie. Com a quase extinção e o enfraquecimento dos tamanduás, que seriam os órgãos de fiscalização, da Polícia Federal, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e outros, espécies que poderiam trazer um certo equilíbrio ecológico e político ao formigueiro, o domínio absoluto das formigas é imposto.

Por certo, essa é uma história que não se encerrará depois das eleições. Fechadas as urnas eletrônicas e proclamados os vencedores pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, em poucos dias, o excitado vaivém das formigas voltará a acontecer para alojar cada uma em seu devido lugar, dando reinício à essa desassossegada movimentação que vai minar e corroer a terra sob nossos pés.

» A frase que foi pronunciada

"Uma geração que muda a lei para nunca ser contrariada não consegue se lembrar de um rei que não seja a própria mesada."

Em um vídeo anônimo nas redes sociais

Babel

Caesb não atende pontualmente os prazos estabelecidos por ela mesma para análise de contas. Consumidores que têm as contas retidas, por causa desse atraso, recebem mensagem de que as faturas estão atrasadas e em débito. O sistema do leiturista não entende o sistema que indica a análise das contas.

Dica

Ótima programação da Rádio MEC agora também em podcasts. É só acessar no Spotify e curtir entrevistas e músicas. De governo em governo, a melhor rádio de música erudita do país sobrevive porque tem qualidade e gente competente trabalhando.

De ninar

"A Justiça não atende os que dormem." A primeira lição do direito pode ser jogada no lixo. O Detran, por exemplo, tem um batalhão de desembargadores que interpretam a lei diferentemente dos juízes de primeira instância, para quem busca a Justiça. Daí, multas de 15, 20, 30 anos atrás, jamais prescrevem, mesmo que dezenas de artigos sejam citados como fundamento. O jeito é cantar para que departamentos como esse continuem dormindo.

» História de Brasília

Como o número de promissória era muito grande, resolveram mandar cobrar. Os colaboradores recebiam e não prestavam conta, e, o mais grave, recebiam de uns médicos e de outros não, havendo, então, a denúncia de que alguns médicos pagavam propinas aos cobradores para receberem de seus doentes. (Publicada em 21/2/1962)