RUY ALTENFELDER - Advogado, curador dos Prêmios Fundação Bunge e presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas
CLAUDIA BUZZETTE CALAIS - Diretora Executiva da Fundação Bunge
O setor agrícola passa por uma verdadeira revolução ligada, em primeiro lugar, a uma mudança de paradigma na economia mundial, que, cada vez mais, atribui valor simbólico e financeiro aos recursos naturais e, em segundo, à conquista de novas fronteiras tecnológicas.
O uso da Inteligência Artificial (IA) no campo é uma dessas fronteiras. Algumas de suas aplicações, presentes ou futuras, são relativamente conhecidas, como as previsões meteorológicas cada vez mais focadas e precisas ou os vários projetos de veículos agrícolas automatizados. Mas essa, por assim dizer, é a ponta do iceberg. Os maiores ganhos potenciais em eficiência e sustentabilidade estão atrelados ao uso da inteligência artificial no monitoramento do solo e da irrigação.
A lavoura é uma das principais consumidoras de água do país. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), nossas propriedades rurais retiram dos rios cerca de 32 trilhões de litros para irrigação em um ano, o que corresponde a quase 50% da água consumida no Brasil. Note-se que essas propriedades correspondem a pouco mais de 10% da área ocupada por lavouras, de acordo com levantamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A maior parte da nossa agricultura não conta com sistemas de irrigação, dependendo, portanto, do regime de chuvas. Logo, qualquer implemento que torne o consumo de água mais eficiente é bem-vindo, especialmente em um cenário de escassez crescente desse recurso natural diante do quadro de mudanças climáticas.
As ferramentas de IA têm permitido realizar uma espécie de varredura dos diferentes tipos de solos, com suas diferentes porosidades, para prever ou simular, a partir desse perfil detalhado, como um fluído se comportará nele. Em outras palavras, essa tecnologia permite que o agricultor calcule, com muito mais precisão, o quanto de água será necessária para uma determinada área plantada, ou qual a capacidade de retenção do líquido apresentada por solo. Isso resulta em economia, tanto financeira quanto de recursos naturais.
Esse tipo de tecnologia também ajudará a lidar com outras variáveis: o acréscimo de uma substância no solo vai ou não aumentar a retenção de água? Em quanto? Quais materiais podem facilitar o transporte de certos nutrientes até as raízes das plantas? A inteligência artificial tem fornecido respostas mais precisas para todas essas perguntas, o que permitirá um uso cada vez mais racional e sustentável das terras agrícolas e de recursos naturais como a água.
Até aqui falamos de como as novas tecnologias, como a IA, estão revolucionando a lavoura. Mas um país que busca inserção na economia deste século precisa levar em consideração também o valor — financeiro, inclusive — de preservar suas florestas de pé.
Especialistas anteveem que o mercado de carbono deve se tornar o maior do mundo nas próximas décadas, superando até mesmo o de petróleo e gás antes de 2050, segundo reportagem da revista Forbes. De fato, somente em 2020, esse setor da chamada economia verde movimentou 229 bilhões de euros, valor 20% acima dos resultados do ano anterior.
Os créditos de carbono representam um ativo financeiro precioso, especialmente em um país como o Brasil, que ainda possui quantidade significativa de suas matas preservadas e a manutenção de áreas de preservação ambiental no interior das grandes propriedades rurais, representa uma decisão economicamente mais vantajosa do que o plantio predatório.
Essa união de uma lavoura moderna, eficiente e tecnológica com metas de sustentabilidade, sintonizadas aos fluxos internacionais do mercado de carbono, são justamente a chave para a construção de uma agricultura propriamente adaptada aos desafios do século 21. Os temas escolhidos para a edição 2022 dos Prêmio Fundação Bunge e Fundação Bunge Juventude — Crédito de carbono e agricultura regenerativa e Inteligência Artificial e o uso das águas e do solo — estão em sintonia com esses desafios.
Afinal, é papel de toda a sociedade, em especial das empresas, encontrar soluções sustentáveis para o desenvolvimento econômico e social do país.