Editorial

Visão do Correio: Auxílio Brasil supera emprego em 12 estados

Em 12 estados do país, concentrados nas regiões Norte e Nordeste (exceto o Rio Grande do Norte), o número de beneficiados pelo programa Auxílio Brasil (20,2 milhões) é superior ao de trabalhadores formais (7,7 milhões, excluídos os do setor público), segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas. Na Bahia, são 2,2 milhões de pessoas que recebem o benefício de R$ 400 do programa governamental. Na segunda posição, está Pernambuco, com 1,4 milhão de benefícios, seguido pelo Ceará, com 1,3 milhão.

Até fevereiro último, o programa pagava aos beneficiários R$ 224 e foi elevado para R$ 400. O aumento vigora até dezembro deste ano. O decreto que instituiu o reajuste precisará ser reeditado para continuar valendo em 2023 ou voltará ao montante anterior, aplicado ao então Bolsa Família. Mesmo tendo praticamente dobrado de valor, o benefício continua insuficiente para mitigar os efeitos corrosivos da inflação em ascendência. Também não elimina a fome que afeta mais de 20 milhões de brasileiros, em situação de insegurança alimentar, sobretudo nas zonas rurais do país.

O Brasil não conseguiu emergir da crise sanitária com vitalidade. No ano passado, mesmo com o avanço da vacinação em massa, o país registrava 12 milhões de desempregados, e o custo de vida em ritmo crescente. Embora a taxa de desemprego venha caindo e chegou 11,2% no trimestre encerrado em janeiro último, a renda do trabalhador diminuiu 9,7%, ficando em R$ 2.489, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad-C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Esse quadro ganha contornos mais acentuados, quando se compara a proporção de benefícios concedidos pelo Estado e os 41 milhões de empregados com carteira assinada. Antes, eram 18 milhões de atendidos pelo Auxílio Brasil. Hoje, eles correspondem a 44% dos empregos formais com carteira de trabalho assinada — um índice recorde.

Fica evidente que as políticas econômicas e sociais adotadas pelo poder público terão de melhorar a distribuição de renda e ampliar o alcance de forma a mitigar a miséria na sociedade brasileira. Em três anos e quatro meses — e em meio há mais de dois anos de pandemia de covid-19, que, segundo o Banco Mundial, teve efeito mais devastador na economia global que as duas Grandes Guerras —, o governo não conseguiu conduzir o debate nem aprovar as reformas tributária e administrativa, consideradas essenciais à retomada do desenvolvimento no país.

Pelo contrário. Tornou-se refém de um Congresso de costas para as demandas do Brasil, enquanto o aumento da pobreza se expandiu e a fome e a miséria, que já cresciam antes mesmo da crise pandêmica, se aprofundaram causadas pelo novo coronavírus. Hoje, 116,8 milhões de brasileiros (55,2% da população) não têm acesso pleno e permanente à comida, apontou o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssam).

A reversão da amarga realidade não se dará neste ano eleitoral, quando todos os Poderes da República estão de viseiras, com olhar fixo nas urnas, e não nas necessidades urgentes dos cidadãos. A superação dos retrocessos e o rompimento das amarras de famílias a programas sociais paliativos dependerão de políticas sérias, do crescimento da economia, para a criação de empregos, e do compromisso dos governantes eleitos com o combate às desigualdades sociais.

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