A economia dá sinais de alerta para os quais o governo precisa estar atento para agir a tempo de impedir que o país efetivamente entre em recessão e um contingente grande de brasileiros seja afetado pelos efeitos negativos da guerra na Ucrânia. O setor de serviços, que responde por cerca de 60% do Produto Interno Bruto, mostra enfraquecimento mesmo após o fim das medidas de restrição social e frustrou as expectativas ao registrar queda de 0,2% em fevereiro na comparação com janeiro, quando o que se esperava era uma alta de 0,7% exatamente por não haver mais a pressão da variante do coronavírus Ômicron. Embora ainda esteja num patamar 5,4% acima do nível pré-pandemia, o indicador tem queda de 2% no primeiro bimestre e mostra que a economia sente os efeitos da inflação acelerada e disseminada por todos os setores - surpreendendo até o Banco Central -, e da renda média da população no menor valor em mais de uma década.
Para os brasileiros, os indicadores de piora da economia representam problemas para honrar as contas e muitas vezes até mesmo os gastos com itens essenciais, como comida. Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo (CNC) mostrou que o número de famílias endividadas bateu recorde em março, com 77,5% das famílias revelando estar endividadas, enquanto levantamento do Serasa mostra que há 65 milhões de inadimplentes, com nove em cada 10 brasileiros considerando uma vergonha ter dívidas. E esse endividamento ocorre principalmente no cartão de crédito, modalidade na qual 87% estão em dívida. Isso porque atualmente 69% das compras feitas no cartão de crédito são de bens essenciais, como alimentos. A renda não é suficiente para as despesas básicas, que são pagas com crédito.
A inflação de 1,62% em março surpreendeu negativamente ao bater em 11,3% em 12 meses e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que os reajustes de preços ficaram muito acima das expectativas e sinalizou a possibilidade de que as taxas de juros tenham uma alta além do um ponto percentual previsto para a reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). A inflação nesse patamar continuará a pressionar a renda e o perigo é os consumidores que hoje se valem do crédito para pagar despesas básicas esgotarem a capacidade de endividamento.
No mercado financeiro, a expectativa até agora era de uma elevação da taxa básica Selic dos atuais 11,75% para 12,75%. O Copom tanto pode fazer um ajuste maior no próximo mês ou postergar o fim do ciclo de alta dos juros, com novo ajuste em junho. Até lá, a autoridade monetária terá como avaliar os impactos do fim da tarifa de escassez hídrica nas contas de luz e da redução na cotação do dólar e a estabilização nos preços do petróleo, que podem levar a uma diminuição no preço dos combustíveis. Mas, como os juros no Brasil já estão num patamar alto, qualquer ajuste além do previsto vai encarecer o crédito, dificultar os investimentos e inibir o consumo, jogando para baixo as perspectivas de uma reação econômica no curto prazo.
O governo ensaia adotar medidas econômicas para irrigar a economia de um lado e, de outro, socorrer os menos favorecidos. Mas é preciso mais do que ensaio para que não ocorra a experiência vivida pelo setor elétrico, que aguardou as chuvas em 2020 — que não vieram —e teve que enfrentar uma situação crítica no ano passado, levando à imposição de um custo pesado para cidadãos e empresas. Com a inflação acelerando por fenômenos externos e os juros subindo, a economia não terá como crescer, mantendo desemprego e renda em patamares de insuficiência para atender a toda a sociedade.
O governo parece apenas assistir - como sempre tem feito -, enquanto outros países já anunciaram medidas emergenciais de apoio às respectivas populações. O risco é a economia estagnar e o Brasil se tornar ainda mais um país de pobres e de endividados. O alerta está dado. Sem melhora efetiva no emprego e na renda, o Brasil terá consumo limitado, travando o crescimento econômico, num círculo vicioso que prejudica o país como um todo.